A intervenção militar era anunciada como passageira e saneadora dos
"desmandos provocados pela infiltração
esquerdista no país".
Tratava-se , segundo seus atores, de uma
verdadeira missão
salvacionista , na qual as Forças Armadas
assumiam uma função
tuteladora da sociedade , como haviam ensaiado à
época da crise do
regime monárquico e, posteriormente , com o
movimento tenentista, a
Revolução de 30 e o golpe de 1937, e diversas
vezes durante o regime
populista. Confiante, a maioria dos jornais de
todo o país saudava a
vitória do movimento "democrático". Às
forças sociais que efetuaram a
ruptura constitucional sabia agora a tarefa de
reorganizar o país.
Praticamente consensual era a necessidade de um
Poder Executivo forte,
que desmobilizasse e desarticulasse as diversas
organizações populares
, e impedisse a ação de seus principais
dirigentes. Por outro lado,
caberia formar o novo governo a partir das
alianças entre os
representantes da UDN e do PSD , das principais
lideranças militares e
dos diversos setores do empresariado. No seio
das Forças Armadas ,
unidas contra o comunismo e a esquerdização da
República , restavam
ainda os setores "reformistas" ou
"nacionalistas" , cuja adesão ao
golpe contra João Goulart fora obtida graças às
seguidas
insubordinações hierárquicas relevadas pelo
Presidente. Gradativamente
esse grupo foi alijado do centro das decisões e
alguns de seus
representantes passaram à oposição ao regime. Os
militares
distinguiam-se ainda em dois outros agrupamentos
: a chamada
"Sorbonne" ou os moderados , como eram
conhecidos os ideólogos da
Escola Superior de Guerra (ESG) , que
forneceriam as bases
doutrinárias para a intervenção político-social
, e os representantes
da "linha-dura", que comandavam as
principais unidades militares.
Durante os 20 anos de ditadura , esses dois
grupos disputaram o
controle político do país e compuseram o núcleo
do poder. A hegemonia
política , tão instável durante a República
Populista, seria exercida
pelos militares.