A clonagem completa de uma ovelha , obtida por
cientistas de Edimburgo (Escócia) , é um avanço de grande importância que não
deve , em princípio , causar grandes preocupações. Em tese , a ciência já a
previa. Entretanto , em termos éticos , implica inúmeros e seríssimos
questionamentos. Teoricamente , trata-se de um experimento que poderá , no
futuro, ser aplicado de forma semelhante em seres humanos. Para que servirá esse ser humano? Poderá ser
um banco de órgãos, para ter uma vida normal? Poderá ser objeto de patente por
alguma empresa? Essas e muitas outras perguntas relativas à bioética que
poderiam ser levadas em consideração merecem ser analisadas em profundidade. A
revolução em física ocorrida por volta dos anos 20, apesar de toda sua
grandiosidade epistemológica, não suscitou maiores problemas éticos. A relatividade do tempo ou a mecânica
quântica jamais se relacionaram à vida
concreta das pessoas - pelo menos até onde elas saibam ; no campo da engenharia
genética , porém , a situação muda de figura. Limites acerca da manipulação genética
, bebês de proveta , patenteamento de seres vivos e outros temas polêmicos que
em potencial podem influir na vida de qualquer um estão hoje na ordem do dia em
todo o mundo. Alguns países já chegaram a adotar legislações sobre o tema. O
fato é que a ciência proporciona, a cada dia , mais técnicas ou tecnologias que
influem na vida do cidadão. É igualmente certo que o avanço nas pesquisas está
ocorrendo num ritmo muito mais acelerado do que a reflexão ética sobre a mesma.
Não se pode , é claro , sob pena de incorrer em velhos erros do passado ,
conter a pesquisa científica. Mas existe uma diferença entre pesquisa e
aplicação de novas técnicas. É justamente sobre isso que a sociedade deve discutir , em busca de uma
definição sobre o que é ou não aceitável. Infelizmente , esse debate está ,
tanto no Brasil como na maior parte do mundo, ainda muito atrasado.
+Reproduzido do Jornal Folha de S.Paulo de
25/02/1997 , (Seção Opinião) , fornecido pela Agência Folha.