Com a prisão e o exílio de muitos de seus maiores
intelectuais e
artistas, e com a ofensiva da televisão, o país
ficou
irremediavelmente menos crítico e reflexivo .
Ouviam-se cada vez mais
músicas norte-americanas , de cujas letras a
imensa maioria mal
conseguia compreender o título. Na esteira da
jovem guarda , tendência
musical iniciada na década de 1960, intérpretes
de ínfimas qualidades
musicais elaboravam versões de sucessos
internacionais ou criavam suas
baladas românticas para delírio das multidões. O
regime patrocinava
grupos musicais e duplas de cantores ,
como Dom e Ravel, responsáveis
por uma das mais difundidas composições do
período : "Eu te amo meu
Brasil, eu te amo / Meu coração é verde, amarelo
, branco, azul anil/
Eu te amo/ Ninguém segura a juventude do
Brasil ". Mas nem tudo era
superficialidade. Adolescentes e
pré-adolescentes de classe média
colecionavam selos, figurinhas , jogos de
futebol de botão, garrafas
de cerveja e embalagens de cigarros importados ,
plásticos e adesivos
de marcas de automóveis e até tampinhas de
garrafas. Esse ambiente de
claro declínio cultural e político ajuda a
explicar o fracasso da luta
armada como alternativa contra a ditadura. Os
guerrilheiros
isolaram-se da sociedade , buscando afirmar-se
como a vanguarda do
processo revolucionário. A sociedade queria e se
dispunha , ao máximo,
a acompanhar a jovem guarda. Até ali ,
temporariamente.