Em nosso cotidiano, ao nos relacionarmos com as
outras pessoas ,
exprimimos por meio de ações , palavras e
sentimentos uma série de
elementos ideológicos. Como vivemos em uma
sociedade capitalista , a
lógica que a estrutura , a da mercadoria ,
permeia todas as nossas
relações , sejam elas econômicas , políticas ,
sociais ou sentimentais
. Podemos dizer que há um modo capitalista de
viver , de sentir e de
pensar. A expressão da ideologia na sociedade
capitalista pressupõe a
elaboração de um discurso homogêneo ,
pretensamente universal , que ,
buscando identificar a realidade social com o
que as classes
dominantes pensam sobre ela , oculta as
contradições existentes e
silencia outros discursos e representações
contrárias. Esse discurso
não leva em conta a história e destaca
categorias genéricas - a
família ou a juventude , por exemplo - ,
passando , em cada caso , uma
ideia de unidade , de uniformidade. Ora, existem
famílias com
constituições diferentes e em situações
econômicas e sociais diversas.
Há jovens que vivem nas periferias das cidades
ou na zona rural ,
enfrentando dificuldades , bem como jovens
que moram em bairros
luxuosos ou condomínios fechados , desfrutando
de privilegiada
situação econômica ou educacional. Portanto, não
existe a família e a
juventude , mas famílias e jovens diversos ,
cada qual com sua
história. Outra manifestação ideológica na
sociedade capitalista é a
ideia de que vivemos em uma comunidade sem
muitos conflitos e
contradições. As expressões mais claras disso
são as concepções de
nação ou de região como determinado país ou dado
espaço geográfico.
Essas concepções passam a visão de que há uma
comunidade de interesse
e propósitos partilhados por todos os que vivem
num país ou num espaço
específico. Ficam assim obscurecidas as
diferenças sociais ,
econômicas e culturais , os conflitos entre os
vários grupos e classes
, enfatizando-se uma unidade que não existe. Um
exemplo disso é a
atribuição de determinadas características a
toda uma região que tem
em seu interior uma diversidade muito grande.
Mas existem outras
formas ideológicas que são desenvolvidas sem
muito alarde e que
penetram nosso cotidiano. Uma delas é a ideia de
felicidade .
Felicidade , para muitos, é um estado
relacionado ao amor , mas também
significa estabilidade financeira e
profissional, bem-estar
existencial e material. É um conjunto de
situações , mas normalmente
a mais focalizada é a amorosa. E os filmes , as
novelas , revistas ,
apesar de todas as condições adversas que um
indivíduo possa enfrentar
, estão sempre reforçando o lema : " o amor
vence todas as
dificuldades". Talvez a maior de todas as
expressões ideológicas que
encontramos em nosso cotidiano seja a ideia de
que o conhecimento
científico é verdade inquestionável. Muitas pessoas
podem não
acreditar em uma explicação oferecida por campos
do conhecimento que
não são considerados científicos , mas basta
dizer que se trata de
resultado de pesquisa ou informação de um
cientista para que a tomem
como verdade e passem a orientar suas práticas
cotidianas por ela.
Isso aparece principalmente quando as
informações e notícias são
veiculadas pelos meios de comunicação e se
referem à saúde. Da busca
do sentido da vida às possibilidades de sucesso,
a ciência é vista
como uma grande solução para todos os problemas
, males e enigmas. Ora
, nada está mais distante do conhecimento
científico do que a ideia de
verdade absoluta e a pretensão de explicar todas
as coisas. A ciência
nasceu e se desenvolveu questionando as
explicações dadas a situações
e fenômenos , e continua se desenvolvendo com
base no questionamento
de seus próprios resultados. O pensamento
científico é histórico e tem
sua validade temporária , sendo a dúvida seu
valor maior. Mas o
conhecimento científico, quando analisado da perspectiva
de uma
pensamento hegemônico ocidental, torna-se
colonialista , pois o que é
particular (ocidental) se universaliza e se
transforma em um paradigma
que nega outras formas de explicar e conhecer o
mundo. Assim,
desqualifica outras culturas e saberes , tidos
como inferiores e
exóticos , como o conhecimento das civilizações
ameríndias , orientais
e árabe.