Apesar da tendência à
auto-suficiência dos senhorios , as atividades mercantis nunca cessaram
completamente. As trocas efetuavam-se em feiras , estabelecidas em geral nas
proximidades de castelos , também chamados de burgos. Com a permissão da
aristocracia senhorial , as feiras podiam instalar-se e até recebiam proteção
em troca de taxas e tributos pagos aos senhores. Restritas a determinados
locais e de frequência irregular , as transações comerciais garantiam o
abastecimento de gêneros fundamentais, que não eram produzidos em todas as
regiões - como o sal e os metais - ou de artigos de luxo consumidos pela
aristocracia. A paz vivida na Europa a partir do século XI, com o fim das
invasões dos vikings , muçulmanos e húngaros , favoreceu as atividades comerciais
. As rotas terrestres e marítimas tornaram-se menos perigosas. A diminuição da
mortandade forneceu um maior número de braços para os trabalhos agrícolas , o
que , num primeiro momento , representou um crescimento geral da produção. A
Europa vivia uma expansão feudal. Novas técnicas permitiram melhor
aproveitamento das terras agrícolas , como o emprego da charrua , um arado de
ferro que , pelo seu peso , cortava profundamente o solo , permitindo o cultivo
inclusive dos pesados solos úmidos do norte da Europa, que ofereciam grande
resistência ao arado leve. Outro progresso foi a invenção da coalheira - arreio
em forma de coleira para os cavalos , ao qual se atavam as peças do arado . O
velho arreio de tipo canga era usado com vantagem nos bois , mas costumava
sufocar os cavalos . Como os cavalos se movimentam mais depressa e têm maior
energia do que os bois , são mais valiosos no trabalho agrícola. Duas outras
invenções , o moinho d'água e o moinho de vento vieram facilitar a moagem do
grão e contribuíram para uma maior produção agrícola. Além disso , o
aparecimento gradual do sistema de agricultura conhecido como dos três campos ,
particularmente no norte da Europa , fez crescer a produção. No sistema de dois
campos , adotado anteriormente , metade da terra era cultivada no outono com o
trigo de inverno , enquanto a outra metade ficava em repouso , para recuperar a
fertilidade . Com o novo sistema , um terço da terra plantada no outono com o
trigo do inverno , um segundo terço era plantado na primavera seguinte com
aveia e legumes , e o terceiro terço ficava em repouso. As vantagens do sistema
de três campos estavam na maior diversificação dos produtos e no fato de dois
terços da terra serem cultivados. Essas inovações , que só foram utilizadas
gradualmente , aumentaram acentuadamente a produção e , com ela , a população.
A expectativa de vida saltou de 25 anos , na Roma Antiga , para 35 anos , no
mundo feudal. Entre os séculos X e XIV , a população da Europa saltou de 20
milhões de habitantes para 54 milhões. A maior produção agrícola reduziu o
número de mortes provocadas pela fome e pelas doenças causadas por deficiência
alimentar . As terras agrícolas de uma aldeia senhorial já não eram capazes de abastecer a população em
crescimento. Em consequência , os camponeses tiveram de colonizar terras
virgens. Os senhores promoviam a transformação de áreas selvagens em terras
agrícolas porque lhes aumentava a renda. As comunidades monásticas também se
dedicavam com afinco a essa empresa. Seus esforços , nos séculos XI e XII,
desbravaram para o cultivo vastas áreas do continente europeu. O progresso na
tecnologia agrícola e a colonização de novas terras modificaram as condições de
vida na Europa. As trocas ocasionais começaram a tornar-se mais constantes ,
transformando alguns pontos de encontro de comerciantes e feiras em cidades ,
locais permanentes de transações comerciais. Além de verdadeiras aglomerações
de comerciantes , as cidades desenvolveram também os diversos ramos do
artesanato e toda uma série de serviços para receber e alojar os negociantes.
Um provérbio medieval dizia: " O ar das cidades traz a liberdade" .
De fato, encravadas no mundo feudal e resultantes do desenvolvimento dessa
economia , as cidades acabaram por acelerar as alterações sociais do período. A
vida urbana atraía parte dos trabalhadores dessa economia , as cidades acabaram
por acelerar as alterações sociais do período. A vida urbana atraía parte dos
trabalhadores rurais , estimulando a fuga de servos e o estabelecimento de
artesãos. Pelo costume da época , todo servo que permanecesse um ano e um dia
em determinada cidade , sem que seu senhor o reclamasse de volta ao seu domínio
, passava a ser considerado livre. O trabalho livre assalariado começava então
a se desenvolver , minando um dos pilares da sociedade feudal.