Uma figura importante na vida intelectual desse período de transição foi Boécio (480-525) , descendente de uma família nobre. Boécio recebeu uma educação clássica na Academia Platônica de Atenas antes que o imperador Justiniano a fechasse em 529. Serviu mais tarde ao rei godo da Itália , Teodorico I (489-526). Reconhecendo que a civilização grego-romana agonizava , Boécio procurou salvar a herança intelectual da Antiguidade. Mas sua obra foi interrompida quando Teodorico mandou que o executassem , em 525 , por sua suposta participação numa conspiração contra o trono. Boécio deixou traduzidos para o latim alguns dos tratados de Aristóteles sobre lógica. Além disso , escreveu comentários sobre esse filósofo e sobre o romano Cícero , bem como tratados de teologia e manuais de aritmética , astronomia e música. Quando estava na prisão à espera da morte , Boécio escreveu "A Consolação da Filosofia" , uma obra-prima da literatura mundial. Como afirma o filósofo inglês Bertrand Russell (1872-1970) , " Boécio teria sido notável em qualquer época : no tempo em que viveu , é simplesmente extraordinário". Privado do poder , prestígio e bens materiais , e diante da morte , Boécio refletiu sobre o significado da vida : "Acreditais haver alguma certeza nos negócios da humanidade , quando sabeis que muitas vezes uma hora rápida pode destruir totalmente um homem?" Preso, voltou-se não para Cristo, mas para a formação filosófica de sua juventude , em busca de orientação e consolo. Sua obra prova o quanto a filosofia greco-romana exerceu influência em sua teologia cristã. Boécio foi uma ponte entre uma civilização clássica que já não podia ser revivida e uma civilização cristã ainda em formação. Até o século XII, praticamente tudo que a cristandade latina sabia de Aristóteles vinha de traduções e comentários de Boécio. Da mesma forma , sua obra de matemática , que continha fragmentos de Euclides , era a principal fonte de estudo dessa ciência na Alta Idade Média.
