Considerado uma "voz de exceção" em nosso Romantismo, pela originalidade da obra que criou , Manuel Antônio de Almeida publicou "Memórias de Um Sargento de Milícias" entre 1853 e 1853 , em forma de folhetim , no suplemento "A Pacotilha", do Jornal do Comércio , sob o pseudônimo de "Um Brasileiro". Esta obra contrasta com os romances românticos de sua época, por várias razões . Primeiro, por ter como protagonista um herói malandro ou um "anti-herói" , na opinião de alguns críticos. Suas virtudes compensam seus pecados. Situa-se , portanto, fora das categorias maniqueístas (heróis X vilões) com as quais são criadas as personagens do Romantismo . Além de se distanciarem do maniqueísmo romântico, as personagens de Manuel Antônio de Almeida distanciam-se também do modelo europeizado característico desse estilo literário em nosso país , mesmo quando inseridas num projeto nacionalista , como o de José de Alencar. Segundo , pelo tipo especial de nacionalismo que a caracteriza , ao documentar traços específicos da sociedade brasileira do tempo do rei D. João VI , com os costumes , os comportamentos e os tipos sociais de um estrato médio da sociedade , até então ignorado pela literatura. Terceiro, pelo tom de crônica que dá leveza e aproxima da fala a sua linguagem direta , coloquial , irônica e próxima do estilo jornalístico . O despojamento , a precisão , a coloquialidade, as marcas de oralidade e o constante tom de crônica de jornal constituem algumas características que afastam a linguagem de "Memórias de Um Sargento de Milícias" do idealismo às vezes açucarado do estilo romântico. Em vez dele , a obra combina constantemente ironia e espírito crítico , bom humor e registro jocoso de costumes populares incluindo o linguajar da época. Nesse sentido , podemos inseri-la no quadro da construção de uma literatura brasileira moderna , já que o Modernismo pregaria , setenta anos depois , a aproximação entre a literatura e a vida de várias formas , inclusive incorporando-se ao texto a linguagem popular, coloquial, do dia-a-dia.