Quando jovem , ele foi considerado por Einstein
um dos dez físicos mais importantes do mundo. O passar do tempo confirmaria seu
excepcional talento - expresso não apenas no domínio da ciência , mas também em
áreas como a crítica de arte e a filosofia. Cinco anos depois da morte desse
inspirador de toda uma geração de cientistas e artistas brasileiros, Mário
Schenberg foi lembrado numa recente exposição na Casa das Rosas , em São Paulo.
Nascido num país sem tradição científica , Schenberg conviveu com alguns dos
maiores cientistas do século , deu uma contribuição definitiva à teoria da
evolução das estrelas e realizou investigações em física fundamental que ainda
surpreendem pela originalidade e ousadia. A multiplicidade de suas áreas de
interesse fez com que se tornasse também um dos principais críticos de arte do
país e a preocupação com os problemas sociais levou-o a participar ativamente
do Partido Comunista. Sob o regime militar
, pagou um preço alto pela coerência política , permanecendo preso por
dois meses , tendo que se esconder durante outros cinco e sendo finalmente afastado de seu cargo de professor titular e
proibido de colocar os pés na universalidade.
Mas a ideologia marxista jamais representou para ele uma camisa de
força. Quando os chamados "temas
alternativos" ainda não tinham a aceitação que têm hoje. Schenberg se
pronunciou com extrema liberdade acerca dos limites do progresso material , dos
perigos do uso indiscriminado da
tecnologia e da necessidade de uma redescoberta dos valore espirituais. Dono de
uma encantadora simplicidade , avesso a qualquer tipo de formalismo , exercendo
naturalmente uma honestidade a toda prova , ele foi um estranho no ninho da
intelectualidade acadêmica. Quem teve o privilégio de conhecê-lo pessoalmente
se lembra de sua cabeleira branca , um pouco menos rebelde do que a de Einstein
; do eterno charuto , tantas vezes apagado , entre os dedos ; da sem-cerimônia
com que recebia as visitas , vestido muitas vezes de pijama ; de sua casa ,
atulhada de pinturas e objetos de arte ; da conversa , pontuada por longas
pausas , das quais Schenberg sempre energia com os olhos ainda cerrados e
alguma frase brilhante nos lábios.
-Globo Ciência. São Paulo : Globo, Jun. 1996.