Para sintetizar o desenvolvimento da poesia
portuguesa contemporânea , vamos partir de uma observação concisa a respeito do
assunto : "A mais importante corrente simultânea e oposta ao Neorrealismo
deixa de ser o psicologismo presencista [...] e passa a ser um imagismo em poesia
que [...] , em 1948 , tenta em Portugal , com o atraso de dois decênios sobre o
modelo inicial francês , a sua aventura
Surrealista" (SARAIVA e LOPES , p. 1138). Enquanto nos anos 1940 explodem
as figuras definitivas de Eugénio de Andrade e Sophia de Mello Breyner Andresen
, a "aventura surrealista" a que se refere o trecho lido tem como
principal representante Mário Cesariny (Poesia - 1944-1955). Autor de uma
poesia marcada pela musicalidade , transparência e simplicidade da palavra que
remete à natureza e ao lirismo, Eugênio de Andrade estreou com "As Mãos e
os Frutos" (1948) e ganhou o prêmio de poesia da Associação Portuguesa de
Escritores com "O Outro Nome da Terra " (1989). Sophia de Mello Breyner Andresen , por sua
vez , é profundamente ligada àquilo que é visível e concreto. Sua poesia
caracteriza-se pelo conjunção entre o ser e o mundo , as palavras e as coisas.
Trata-se de um ideal clássico , que se erige especialmente por meio de imagens
marítimas . Esse ideal concilia-se , em sua produção, com poemas de resistência
contra o fascismo salazarista e as guerras coloniais. Entre inúmeras obras,
publicou "Dia do Mar" (1947) e "O Nome das Coisas " (1977)
. Entre os novos caminhos da poesia portuguesa contemporânea , ressaltamos o
experimentalismo - fortemente influenciado pelas experiências concretistas
brasileiras - , representado por poetas como Herberto Helder , Antônio Ramos
Rosa e Ernesto Manuel de Melo e Castro. Autor de "Os Passos Em Volta
" (1963) , entre outras obras , Herberto Helder conseguiu realizar uma
síntese incomparável de experiências modernistas - do futurismo ao surrealismo
- e é considerado um dos mais fecundos nomes da produção poética contemporânea
do país.