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sexta-feira, 8 de junho de 2018

O Brasil No Primeiro Mundo?


  "Onde foi que nós erramos? É a famosa pergunta feita pelos pais quando o filho se desvia do que eles consideram o "bom caminho". Da mesma forma , os "explicadores" do Brasil vêm tentando , sem muito sucesso , encontrar as razões que impedem nosso país de deslanchar e o mantêm pobre e desigual , distante do ideal que para ele traçamos , como se ele fosse apenas uma promessa permanente, um eterno devir. Não que não haja explicações , apenas elas não são convincentes. E ficamos sem entender como é que um povo que enxergamos tão esperto e cordial , vivendo numa terra que achamos tão generosa , não chegou ainda ao tão ansiado Primeiro Mundo . [...] Por mais que isso fira a lógica , fazemos parte de uma nação sem a ela pertencer , não assumimos ônus e responsabilidade da cidadania , sob o pretexto de não termos sido consultados pela nação que escolheu 'esse povinho' que está aí. Isso nos exime da responsabilidade sobre os desmandos dos governantes , a inoperância da polícia , os sistemas previdenciários [...] , de saúde [...] e da educação [...] e o transporte coletivo [...]. Reclamamos contra as ruas inundadas durante as chuvas , mas cimentamos todo o nosso terreno e construímos o dobro da planta aprovada na prefeitura. Declaramo-nos chocados com a violência no trânsito , mas transformamos as ruas (incluindo as faixas de pedestres) em espaço de competição , onde nos sentimos como El Cid derrotando os mouros. Somos esquizofrênicos sociais, divididos em nossa autoimagem generosa e primeiro-mundista e nossa prática egoísta e autoritária.  Enquanto nosso espelho nos mostra bons e cordiais , nosso comportamento nos revela preconceituosos e agressivos. Como estudantes preguiçosos , não assumimos a responsabilidade de nossas ações e atribuímos aos outros a culpa pelo nosso fracasso. Se não tivéssemos sido objeto do saque colonial ... Se o clima fosse mais frio, nossas avós fariam conservas , o que aumentaria o valor agregado de nossos produtos agrícolas , já que exportaríamos doce de graviola e goiaba , e não a fruta a granel... Se , se , se. A verdade é que não assumimos ainda as responsabilidades decorrentes a quem pertence a uma sociedade complexa , baseada em contratos sociais que só funcionam se forem cumpridos por todos , o que inclui ,  é claro , responsabilidade social, produto escasso por estas bandas. O fato de o Estado ter precedido a Nação no Brasil talvez seja o motivo principal de haver um divórcio tão profundo entre governo e sociedade , mas o reconhecimento desse "pecado original" não nos exime de uma prática social adequada aos objetivos que alegamos desejar ao nosso país. [...] O Brasil tem futuro? Tem , sim, e é o futuro que decidirmos dar a ele. Sem determinismos geográficos , ou econômicos. Sonhar grande é insuficiente . Há  que construir este sonho , pedra a pedra. Mais difícil que extrair petróleo e gás do fundo do mar será construir uma nação mais justa, sem o populismo que tem servido para escamotear as  as desigualdades, por meio de esmolas concedidas pelo poder. Cabe a nós decidir se queremos nos lançar a essa empreitada.

-PINSKY , Jaime. O Brasil no Primeiro Mundo. Estudos e Pesquisas, Rio de Janeiro : n. 225, maio 2008.

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