A escritora Hannah Arendt foi uma das primeiras intelectuais a perceber
a relação entre o nacionalismo e o imperialismo. Propagandistas e ideólogos
conseguiram mobilizar o sentimento de superioridade e o desejo de grandeza para
além do expansionismo dos grandes grupos econômicos, dando ao imperialismo uma
atração popular e ganhando , assim, o apoio dos dirigentes e das massas dos
países europeus.
"[...] Novamente a expansão surgia como a tábua de salvação, se e
enquanto pudesse proporcionar o interesse comum para a nação como um todo , e
foi principalmente por esse motivo que se permitiu que os imperialistas se
tornassem 'parasitas do patriotismo'. [...] Além disso, o imperialismo não era
uma aventura no sentido comum, porque dependia menos de lemas nacionalistas que
da base aparentemente mais sólida dos interesses econômicos. Numa sociedade de interesses em conflito,
onde o bem comum era identificado com a soma total dos interesses individuais ,
a expansão como tal tinha aparência de possível interesse comum da nação como
um todo. Como as classes proprietárias e dominantes haviam persuadido a todos
que o interesse econômico e a paixão pela propriedade formam uma base firme
para o corpo político , até mesmo estadistas não imperialistas eram facilmente
persuadidos quando se divisava no horizonte o interesse econômico comum. Por
esses motivos , portanto, o nacionalismo descambou tão nitidamente para o
imperialismo, apesar da contradição inerente aos dois princípios . [...]
Teoricamente , existe um abismo entre o nacionalismo e o imperialismo ; na
prática , esse abismo já foi transposto pelo nacionalismo tribal e pelo racismo
desenfreado , pois desde o início os imperialistas de toda parte diziam-se
'acima de todos os partidos' e ufanaram-se disso, julgando-se os únicos que
podiam falar em nome da nação como um todo. [...] O apelo à unidade
assemelhava-se exatamente aos gritos de alerta que sempre haviam levado os
povos à guerra ; e , no entanto , ninguém - exceto Marx - percebeu que aquele
instrumento universal e permanente de unidade escondia o germe da guerra
permanente e universal. Mais do que qualquer outro grupo , foram as autoridades
governamentais que adotaram ativamente o imperialismo nacionalista ,
tornando-se assim responsáveis pela confusão que surgia entre o imperialismo e
o nacionalismo . [...] A expansão deu nova vida ao nacionalismo e, portanto,
foi aceita como instrumento de política nacional. Os membros das associações
colonialistas e ligas imperialistas sentiam-se 'bem distantes das lutas
partidárias' e, quanto mais se afastavam da pátria , mais acreditavam
"representar apenas o propósito nacional".
+ARENDT , Hannah. Origens
do Totalitarismo . São Paulo : Companhia das Letras, 1989. P. 182-184.