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sexta-feira, 8 de junho de 2018

A Mobilização Para o Imperialismo


  A escritora Hannah Arendt foi uma das primeiras intelectuais a perceber a relação entre o nacionalismo e o imperialismo. Propagandistas e ideólogos conseguiram mobilizar o sentimento de superioridade e o desejo de grandeza para além do expansionismo dos grandes grupos econômicos, dando ao imperialismo uma atração popular e ganhando , assim, o apoio dos dirigentes e das massas dos países europeus.

"[...] Novamente a expansão surgia como a tábua de salvação, se e enquanto pudesse proporcionar o interesse comum para a nação como um todo , e foi principalmente por esse motivo que se permitiu que os imperialistas se tornassem 'parasitas do patriotismo'. [...] Além disso, o imperialismo não era uma aventura no sentido comum, porque dependia menos de lemas nacionalistas que da base aparentemente mais sólida dos interesses econômicos.  Numa sociedade de interesses em conflito, onde o bem comum era identificado com a soma total dos interesses individuais , a expansão como tal tinha aparência de possível interesse comum da nação como um todo. Como as classes proprietárias e dominantes haviam persuadido a todos que o interesse econômico e a paixão pela propriedade formam uma base firme para o corpo político , até mesmo estadistas não imperialistas eram facilmente persuadidos quando se divisava no horizonte o interesse econômico comum. Por esses motivos , portanto, o nacionalismo descambou tão nitidamente para o imperialismo, apesar da contradição inerente aos dois princípios . [...] Teoricamente , existe um abismo entre o nacionalismo e o imperialismo ; na prática , esse abismo já foi transposto pelo nacionalismo tribal e pelo racismo desenfreado , pois desde o início os imperialistas de toda parte diziam-se 'acima de todos os partidos' e ufanaram-se disso, julgando-se os únicos que podiam falar em nome da nação como um todo. [...] O apelo à unidade assemelhava-se exatamente aos gritos de alerta que sempre haviam levado os povos à guerra ; e , no entanto , ninguém - exceto Marx - percebeu que aquele instrumento universal e permanente de unidade escondia o germe da guerra permanente e universal. Mais do que qualquer outro grupo , foram as autoridades governamentais que adotaram ativamente o imperialismo nacionalista , tornando-se assim responsáveis pela confusão que surgia entre o imperialismo e o nacionalismo . [...] A expansão deu nova vida ao nacionalismo e, portanto, foi aceita como instrumento de política nacional. Os membros das associações colonialistas e ligas imperialistas sentiam-se 'bem distantes das lutas partidárias' e, quanto mais se afastavam da pátria , mais acreditavam "representar apenas o propósito nacional".

+ARENDT , Hannah. Origens do Totalitarismo . São Paulo : Companhia das Letras, 1989. P. 182-184.

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