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segunda-feira, 13 de maio de 2019

O Milagre Brasileiro


"Sem desenvolvimento não há segurança." A máxima do secretário de Defesa dos Estados Unidos , Robert MacNamara , foi levada ao pé da letra pelas autoridades brasileiras. Na doutrinas elaborada pela ESG, a segurança nacional completava-se com o desenvolvimento econômico . A integração das regiões Norte e Centro-Oeste ao Sudeste e o estabelecimento de um complexo industrial-militar deveriam sustentar a defesa nacional a partir da ocupação de vastas áreas despovoadas. O crescimento econômico afastaria o risco da sedução subversiva e deveria ser financiado pela associação de capitais do Estado, multinacionais e da iniciativa privada de grandes empresários nacionais.  Os primeiros arranjos econômicos do regime militar valeram-se do fortalecimento do Executivo. O grau de coesão dos grupos econômicos dominantes em torno dos novos dirigentes permitiu a adoção de uma política de equilíbrio fiscal que reduziu o déficit público e a inflação , que passou de 100% ao ano , em 1964 , para 20% , em 1969. A liberação de crédito para as grandes empresas e isenções aos setores exportadores promoveram a formação de grandes conglomerados financeiros-industriais que diversificaram suas atividades , sob o custeio e a égide do capital financeiro. Conjuntamente , a repressão aos trabalhadores (cassações políticas ,  intervenção nos sindicatos , com prisões e intimidações dos principais líderes , fim da estabilidade no emprego , eliminação do direito de greve , etc.) determinou uma nova correlação de forças na sociedade , absolutamente diversa da do período anterior. Assim foi possível implementar uma política que , além do achatamento salarial dos trabalhadores de menor qualificações, alterou qualitativamente as relações de trabalho no país , provocando maior subordinação à disciplina das empresas e menor atenção às necessidades e direitos do trabalhador. A ditadura fazia o Brasil crescer. Na marra . "Sem desenvolvimento não há segurança." A partir de 1968 , a economia brasileira integrou uma nova divisão internacional do trabalho. A expansão industrial brasileira passou a ser dominada pelo capital multinacional , aumentando a tendência à desnacionalização, presente desde o governo de Juscelino Kubitschek. Incentivos a exportadores de manufaturados alteraram a composição da pauta de exportações. Ao contrário do desenvolvimento vivido nos anos da democracia populista , as prioridades industriais passaram a ser ditadas pelas necessidades do mercado mundial, e não mais pelo mercado interno. Assim o grande capital dirigia-se ao Brasil atraído pelos baixos custos dos fatores de produção , principalmente da mão-de-obra , e pelos incentivos concedidos às exportações. A queda da inflação e os índices de crescimento do PIB - acima de 10% ao ano- foram suficientes para que os propagandistas do regime apontassem a existência de um milagre econômico brasileiro semelhante ao que teria ocorrido na Alemanha e no Japão no pós-guerra. O capital externo afluía de  maneira nunca vista na história do país e a indústria batia recordes de prosperidade. As taxas de crescimento econômico eram mantidas também pela expansão da linha de crédito ao consumidor - privilegiando a classe média , ávida por bens de consumo duráveis - e pelo estímulo à poupança interna, corrigida pela correão monetária das taxas de juros. Dirigido por tecno-burocratas civis e militares , o Brasil era anunciado pelas campanhas oficiais como um iminente integrante do Primeiro Mundo. O governo Médici marcou definitivamente a República Militar e a história do país. No auge da repressão política , com o progressivo desbaratamento da oposição armada , com o silenciamento da oposição legal e o controle absoluto dos meios de comunicação, o Brasil viveu a euforia do "milagre econômico". Os índices de crescimento na ordem de 10% ao ano, a ampliação do poder de compra da classe média e as inúmeras obras de "integração nacional" fizeram os brasileiros acreditarem num destino glorioso a eles reservado. Na Copa do Mundo de 1970 a seleção de futebol concretizava , nos campos mexicanos , as esperanças de 90 milhões de brasileiros. A alegria pelo tricampeonato foi aproveitada pelo regime como mais  uma de suas conquistas. Uma intensa guerra de propaganda inundou o país com seus slogans ufanistas : "Este é um país que vai pra frente"; Ninguém segura este país"; "Brasil : Ame-o ou deixou-o". A seleção tornava o regime de chuteiras e este , sinônimo da própria nação.

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