Se o ser humano fosse um ser cheio , total, pleno, com um essência definida , não poderia ter nem consciência nem liberdade. Primeiro , porque a consciência é um espaço aberto a múltiplos conteúdos e relações. Segundo, porque a liberdade representa a possibilidade de escolha . Por intermédio de suas escolhas , o indivíduo constrói a si mesmo e torna-se responsável pelo que faz. Assim, para Satre , se o ser humano não expressasse esse "vazio de ser" , sua consciência já estaria pronta , fechada. E , nesse caso, não poderia manifestar liberdade , pois estaria preso à realidade estática do ser pleno , do ser em si. Outra consequência dessa característica específica do não-ser é que não podemos falar da existência de uma natureza humana previamente determinada. Assim, para Satre , o que existiria é uma condição humana , isto é , " o conjunto de limites a priori que esboçam a sua [do ser humano] situação fundamental no Universo". E acrescenta :
"As situações históricas variam : o homem pode nascer escravo numa sociedade pagã- ou senhor feudal ou proletário. Mas o que não varia é a necessidade para ele de estar no mundo, de lutar , de viver com os outros e de ser mortal." (O existencialismo é humanismo, p. 16).
Portanto , um dos valores fundamentais da condição humana é , segundo Satre , a liberdade. É o exercício da liberdade , em situações concretas, que move o ser humano, que gera a incerteza , que leva à produção de sentidos , que impulsiona a ultrapassagem de certos limites. Quando se tornou mais influenciado pelo marxismo , Satre reconheceu que era demasiada a extensão da liberdade que atribuía às pessoas , pois tinha exagerado ao despreza o peso das pressões sociais e os vínculos culturais.
