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sexta-feira, 1 de junho de 2018

A Classe Operária Vai Ao Paraíso ?


A cidade do Rio de Janeiro contava com cerca de 1 milhão de habitantes
em 1910 , quase o dobro da população da cidade de São Paulo na mesma
época. Seu crescimento acelerado não ocorreu , todavia, de forma
súbita. Desde o início do século XIX, com a chegada da família real
portuguesa e , posteriormente , como sede da Monarquia brasileira , o
Rio manteve-se como a maior cidade do país. Capital política ,
cultural e econômica , teve nos anos republicanos o período mais
agitado da sua história. Com a abolição , muitos ex-escravos
engrossaram a população carioca , que receberia ainda uma vasta leva
de imigrantes , principalmente portugueses , ao longo de todo o
período oligárquico. Apesar de - ao contrário de São Paulo - Quase a
metade de sua população ser natural da cidade no início do século XX,
havia também certo desconforto com relação à maioria de seus
habitantes. Mas não eram apenas os eventuais sotaques estrangeiros que
causavam temores às classes abastadas.  A refinada elite carioca , que
em 1897 assistira ao desfile de José do Patrocínio em um automóvel
movido a vapor e tinha lembranças do requinte imperial, de seu
convívio com as maiores autoridades da República , não se reconhecia
em sua cidade. Com exceção de seus confortáveis palacetes de Botafogo
e Laranjeiras , um pouco afastados do centro , a cidade era cortada
por ruas estreitas e vielas , onde se erguiam  prédios e casas velhas
, imensos cortiços que podiam abrigar milhares de pessoas, estalagens
, inúmeras casas de comércio e , pouco a pouco, subindo os morros ,
amontoados de barracos formando as primeiras favelas. Para piorar ,
havia as áreas pantanosas , que provocavam constantes epidemias de
febre tifoide, varíola e febre amarela.  Uma completa reformulação da
cidade foi concebida para torná-la agradável para sua elite e
semelhantes às metrópoles europeias. Modernizar o porto , abrir largas
avenidas , erradicar as doenças , derrubar os cortiços e ,
principalmente , empurrar para longe a população pobre, rude e mestiça
, eram os desejos da população elegante do Rio de Janeiro. O
presidente Rodrigues Alves (1902-1904) empreendeu a remodelação tão
desejada pela elite carioca. Os cortiços foram derrubados , dando
lugar a belíssimas praças , charmosos jardins , largas avenidas e
vistosos palacetes. Saneamento , limpeza pública e pavimentação
completaram a reurbanização levada a cabo pelo engenheiro Pereira
Passos, colocando a cidade à altura da exuberante natureza que a
circulava . Seus abastados habitantes não se envergonhariam mais
diante dos visitantes estrangeiros. O Rio estava no caminho de se
tornar a "cidade maravilhosa".  O resultado imediato, além do
embelezamento da cidade , foi a deterioração ainda maior das condições
de vida dos trabalhadores. O preço dos aluguéis subiu e a população
mais pobre foi removida do centro para áreas mais distantes. A
ocupação dos morros com barracos tornou-se mais frequente.

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