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sexta-feira, 17 de maio de 2019

O Novo Sindicalismo


Em 1979 , logo no início do governo Figueiredo , uma nova onda grevista tomou conta do ABC. Uma rápida ação repressiva acarretou a intervenção nos sindicatos e a cassação de seus líderes. Imediatamente organizou-se em torno dos operários um forte movimento de resistência civil , contando com a participação de muitos dos setores que lutavam pela redemocratização do país. Destituídos de seus sindicatos , os operários obtiveram o apoio da Igreja Católica , que cedeu a catedral de São Bernardo do Campo para sede do movimento grevista. Políticos do MDB , estudantes , intelectuais e jornalistas tomaram parte em várias assembleias que excederam o número de 100 mil participantes. Por todo o país uma grande rede de solidariedade arrecadou fundos e alimentos para as famílias dos trabalhadores.  Amadurecido pelas vitórias de 1978 , o movimento grevista agora dirigia suas baterias contra a estrutura sindical vigente . Afora as reivindicações salariais , os metalúrgicos  estabeleceram a negociação direta com os patrões. Além disso , na prática , viram reconhecida salariais , os metalúrgicos estabeleceram a negociação direta com os patrões. Além disso , na prática , viram reconhecida a representatividade de suas comissões de fábrica e de suas novas lideranças sindicais , entre as quais despontava o nome de Luís Inácio da Silva , o Lula. Mais uma vez a onda grevista não se circunscreveu ao ABC. Por todo o país , centenas de outras categorias - incluindo setores assalariados da classe média , como médicos , professores e funcionários públicos - também estabeleciam uma nova forma de atuação sindical e desafiavam o regime militar com seus movimentos reivindicatórios. Começava a esboçar-se um novo sindicalismo , contestador das práticas das lideranças "pelegas" , que serviam ao regime militar , e diverso daquele existente no país durante a República Populista , atrelado ao Estado. Esse era uma dado novo na política nacional. Em 1980 , um novo movimento grevista tomou conta do ABC. Dessa vez a reação do governo foi mais violenta. Intervindo nos sindicatos e prendendo seus diretores - que seriam enquadrados na Lei de Segurança Nacional - , o governo deu mostras de que os militares ainda controlavam o país. Após 41 dias os trabalhadores encerraram a greve sem alcançar suas reivindicações. Em fevereiro de 1981, os principais dirigentes metalúrgicos foram julgados e condenados por um tribunal militar. Nesse ano os metalúrgicos do ABC não tiveram forças para organizar uma nova greve. Apesar de derrotados , os líderes sindicais conseguiram angariar apoios importantes no Brasil e no exterior. A essa altura uma parcela considerável do novo movimento estudantil , que conseguira reestruturar suas entidades e atuava em conjunto com as outras forças do campo democrático - setores da imprensa , a Igreja progressista , políticos do MDB , entidades da sociedade civil e sindicalistas - , começava a ser atraída pela atuação de Lula e dos demais dirigentes do ABC. A movimentação operária serviu como divisor de águas para o processo de abertura política. Em primeiro lugar , porque as demandas sociais decorrentes da crise econômica da segunda metade da década de 1970 aceleram as medidas de liberalização política. Em segundo , porque se definiram os limites da abertura. Enquanto governava com as elites , o regime procurava manter a repressão sobre a classe trabalhadora. Para o pacto da transição democrática , a classe operária não estava convidada. Mas impunha-se de forma surpreendente.

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