Sócrates -
"Se te expus tudo isso, meu caro Teeteto, com tantas minúcias, foi por suspeitar que algo em tua alma está no ponto de vir à luz, como tu mesmo desconfias. Entrega-te , pois, a mim , como filho de uma parteira que também é parteiro , e quando eu te formular alguma questão , procura responder a ela do melhor modo possível . E se no exame de alguma coisa que disseres , depois de eu verificar que não se trata de um produto legítimo mas de algum fantasma sem consistência , que logo arrancarei e jogarei fora , não te aborreças como o fazem as mulheres como seu primeiro filho. Alguns, meu caro, a tal extremo se zangaram comigo, que chegaram a morder-me por os haver livrado de um que outro pensamento extravagante . Não compreendiam que eu só fazia aquilo por bondade. Estão longe de admitir que de jeito nenhum os deuses pode e querer mal aos homens e que eu, do meu lado, nada faço por malquerença pois não me é permitido em absoluto pactuar com a mentira nem ocultar a verdade. "
Aqui o filósofo reconhece que suas perguntas e ao que elas conduziam incomodavam muito seus contemporâneos , a ponto de ser considerado inimigo público e condenado à morte. Quando se toca o cerne de um problema , a reação pode ser violenta . Em razão disso, Sócrates exorta seu interlocutor a aceitar as dificuldades encontradas no caminho. Aquele que se dedica ao filosofar precisa se desfazer não apenas dos preconceitos , mas também das suscetibilidades do orgulho e do amor-próprio e se entregar totalmente ao diálogo reflexivo com o outro , A exame aberto e fecundo das questões propostas. Mas , como nem todos adotam a mesma atitude , esse esforço nem sempre será compreendido.