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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Reducionismo Materialista


   É o que ocorre , por exemplo, no campo científico , onde o racionalismo materialista encontrou solo fértil e se impôs de maneira crescentemente hegemônica , desde o início da época moderna. Isso pode parecer "normal" quando se trata das ciências da natureza - como a física , a química e a biologia - , que lidam de modo direto com a matéria e os fenômenos naturais . Mas o que dizer das ciências do ser humano , como a psicologia e a sociologia? É possível relacionar pensamentos , emoções e condutas sociais com elementos ou substâncias corporais? Cada vez mais áreas como a genética e as neurociências , entre outras , têm tentado mostrar que sim , que é possível e alcançado com certo êxito. Hormônios como a adrenalina ou neurotransmissores como a serotonina ,  sem falar nos genes , já se tornaram lugares-comuns no linguajar popular para explicar estados psicológicos ou comportamentos diversos nos seres humanos essa tendência a relacionar o corporal ou material com o psíquico , o inanimado com o animado , é  uma consequência lógica da ontologia materialista, que considera a natureza como realidade única e , consequentemente , o ser humano como um ser natural que não necessita de nada além de sua natureza física para ser explicado.

"[Isso] tornou o materialismo, ao longo de toda a sua história, solidário do racionalismo, do espírito científico , das Luzes , em suma , de tudo o que combatia as superstições : "sobrenatural", para um materialista , é uma palavra vazia de sentido ou, antes , sem objeto. Mas também é o que leva , quase inevitavelmente , ao reducionismo. Se chamarmos de física o conhecimento da natureza ou  da matéria , o materialismo é um fisicalismo ontológico : não há nada que não seja matéria ou produto da matéria , não existe nada que não seja , de direito , conhecível pela física ou redutível , em última instância , a processos que o sejam. No limite , não pode haver metafísica do materialismo seria antes  a própria física [...]." (Comte-Sponville em Comte-Sponville e Ferry , Sabedoria dos Modernos , p. 31).   Como esse texto salienta , o materialismo tende ao reducionismo, isto é , à maneira de pensar segundo a qual o todo (por exemplo, uma máquina ou um animal) pode ser explicado pelas partes nas quais ele se reduz (por exemplo, as peças que compõem a máquina ou os órgãos que formam o animal). Há aí o entendimento de que " a soma das partes equivale ao todo". Se conhecemos as partes , conhecemos o todo. De acordo com o enfoque reducionista , cada parte poderia ser convertida sucessivamente em níveis de organização inferiores , até chegar ao nível de substâncias materiais ou unidades físicas mais elementares. Em outras palavras , a biologia poderia ser reduzida à química e , depois , à física , já que a vida não passaria de uma reunião de substâncias químicas , e estas , de uma combinação de átomos . Isso quer dizer que a física seria a ciência básica : aquela que fundamentaria todo o conhecimento sobre o mundo, já que lidaria com as "verdadeiras" unidades ontológicas do real.

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