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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Movimento Dialético Do Real


   E como seria esse movimento do real ? Quando Hegel concebe a realidade como espírito , quer destacar que ela não é apenas uma substância (uma coisa permanente , rígida) . É principalmente um sujeito , um ser com vida própria , que pode atuar. Portanto , entender a realidade como espírito é entendê-la nesse seu atuar constante , ou seja , como movimento ou processo , e não como coisa ou substância inerte. É entendê-la como devir. Mas como é esse movimento do real? De acordo com Hegel , esse movimento tem uma característica específica : ele se dá por contradições auto-superadoras contínuas. Isso quer dizer que cada momento surge do anterior e prepara o seguinte , em um processo de embate e superação em que sempre o anterior tem de ser negado. Em seu texto "Fenomenologia do Espírito", Hegel usa um exemplo da natureza para ilustrar esse processo:

"O botão desaparece no florescimento , podendo-se dizer que aquele é rejeitado por este ; de modo semelhante , com o aparecimento do fruto , a flor é declarada falsa existência da planta , com o fruto entrando no lugar da flor como a sua verdade. Tais formas não somente se distinguem , mas cada uma delas se dispersa também sob o impulso da outra , porque são reciprocamente incompatíveis . Mas , ao mesmo tempo, a sua natureza fluida faz delas momentos da unidade orgânica , na qual elas não apenas não se rejeitam , mas , ao contrário, são necessárias uma para a outra , e essa necessidade igual constitui agora a vida do inteiro . (p.6).

   vemos , assim, como a realidade não é estática , mas dinâmica . Os momentos se contradizem entre si , sem , no entanto , perderem a unidade do processo , que leva a um crescente auto enriquecimento.    Esse desenvolvimento, que se faz através do embate e da superação de contradições, Hegel denominou dialética. Não se trata aqui do método proposto por Platão para pensar e conhecer a realidade, mas  sim de uma descrição do movimento real do mundo. O movimento dialético se processa em três momentos : o primeiro , do ser em si ; o segundo , do ser outro ou fora de si ; e o terceiro (que seria o retorno), do ser para si . Usando novamente o exemplo do reino vegetal : a semente seria o  em si da planta , mas ela deve morrer como semente para sair fora de si e poder se desdobrar na planta para si.  Por motivos didáticos , esses três momentos do real são comumente chamados de tese , antítese e síntese (embora alguns estudiosos afirmem que Hegel nunca usou essa terminologia). Como o mover do mundo é contínuo , cada momento final , que seria a síntese , torna-se a tese de um movimento posterior , de caráter  mais evoluído. Assim a dialética do mundo pode ser representada como uma espiral , ou seja, um movimento circular que não se fecha nunca, seguindo evolutivamente em direção ao infinito.

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