Saiba Mais

Translate

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Triste Fim de Policarpo Quaresma (Fragmento)


O que mais a impressionou no passeio foi a miséria geral , a falta de cultivo , a pobreza das casas , o ar triste , abatido da gente pobre. Educada na cidade , ela tinha dos roceiros ideia de que eram felizes , saudáveis e alegres. Havendo tanto barro, tanta água , por que as casas não eram tijolos e não tinham telhas ? Era sempre aquele sapê sinistro e aquele "sopapo" que deixava ver a trama de varas , como o esqueleto de um doente. Por que , ao redor dessas casas , não havia culturas , uma horta , um pomar? Não seria tão fácil , trabalho de horas ? E não havia gado , nem grande nem pequeno. Era raro uma cabra , um carneiro. Por quê ? Mesmo nas fazendas , o espetáculo não era mais animador. Todas soturnas, baixas , quase sem o pomar olente e a horta suculenta. A não ser o café e um milharal , aqui e ali, ela não pôde ver outra lavoura , outra indústria agrícola.  Não poderia ser preguiça só ou indolência. Para seu gasto, para uso próprio, o homem tem sempre energia para trabalhar . As populações mais acusadas de preguiça trabalhavam relativamente. Na África , na Índia , na Cochinchina , em toda a parte , os casais , as famílias , as tribos , plantam um pouco , algumas coisas para eles. Seria a terra? Que seria? E todas essas questões desafiavam a sua curiosidade , o seu desejo de saber , e também a sua piedade e simpatia por aqueles párias , maltrapilhos , mal alojados , talvez com fome , sorumbáticos !....

¤ Triste fim de Policarpo Quaresma. In: Eliane Vasconcelos (Org.). Lima Barreto : prosa seleta. Rio de Janeiro : Nova Aguilar , 2006. P. 337.

Anuncios