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sexta-feira, 26 de abril de 2019

As Cruzadas


Transpor as florestas por caminhos mais ou menos arriscados acabou por lançar os andarilhos medievais nas fronteiros da cristandade. Para além dos domínios cristãos existia uma diversidade de povos pagãos e os "infiéis" muçulmanos. Não haveria maior prova de fé que enfrentar tais inimigos. Por trágica ironia, a Palestina , a região mais sagrada para os cristãos , estava sob domínio muçulmano desde o século VII. Grande parte dos acontecimentos descritos pelo Antigo Testamento transcorrem na Palestina. As lutas dos judeus contra seus inimigos ; sua volta à terra de origem após o cativeiro no Egito ; os novos castigos impostos por Deus ; a conquista da cidade de Jerusalém pelos babilônios ; a dispersão dos judeus pelo mundo e a promessa de um retorno definitivo à Terra Prometida eram lembranças guardadas pela Bíblia e transmitidas pelo clero aos cristãos.  Ali também havia transcorrido praticamente todo o drama da vida de Cristo , desde seu nascimento em Belém até a crucificação em Jerusalém . Muitos cristãos dirigiam-se à Terra Santa para conhecer e adorar a região teria vivido. Outros , participantes de verdadeiras peregrinações armadas , as Cruzadas , procuraram conquistar pela força das armas os lugares desejados pela fé. Ao mesmo tempo em que realizavam as peregrinações à Palestina , os cristãos mantinham-se atraídos pelas imagens de abundância e beleza do Paraíso Terrestre propagandas pela Igreja. A terra de onde fluíram rios de leite e mel também possuiria a Árvore da Vida e a fonte da juventude , que impediriam a morte e o envelhecimento, além de ouro , prata e todas as pedras preciosas em quantidades extraordinárias . As descrições bíblicas faziam acreditar que o Éden se localizava sobre a mais alta montanha do Oriente , num ponto próximo à Palestina .  Para alguns , a montanha que sustentava o Éden era tão elevada que chegava a atingir a esfera da Lua e teria assim ficado a salvo da destruição provocada pelo Dilúvio bíblico. Outros fixavam a localização do Paraíso em alguma ilha fantástica , separada por homens por águas perigosas e assustadoras. De uma ou outra forma , a obsessão pela materialidade desse lugar sonhado traduziu-se em expedições e em relatos de viagens que despertavam grande interesse em todos os níveis da sociedade medieval , dos mais humildes camponeses até os mais poderosos membros da aristocracia senhorial. Mais do que simples fantasias ou delírios de uma sociedade extremamente religiosa , as representações do Paraíso continham os desejos e as expectativas dos homens medievais.  Muitas vezes , por trás dessas descrições havia críticas à sociedade da época. A capacidade imaginativa do homem medieval levou-o a elaborar diversos outros fantásticos, na maioria das vezes situados no Oriente. Reinos misteriosos e exóticos , ilhas repletas de riquezas e seres estranhos , povos que praticavam canibalismo e mantinham tipo de relações sexuais eram temas de relatos de viajantes que haviam transposto os limites da cristandade. Por exemplo , no século XII, entre a segunda e a terceira cruzadas, começaram a circular na Europa notícias sobre um rei-sacerdote cristão, possuidor de um rico e poderoso reino situado na Índia. O Preste João, como era chamado, estaria combatendo os muçulmanos a partir do Oriente e teria quase chegado a conquistar a Terra Santa. A proximidade com as terras do Paraíso fazia com que predominasse no reino um ambiente de paz e harmonia, onde se guardavam relíquias sagradas e onde havia uma fonte da juventude que impedia o envelhecimento e proporcionava saúde àqueles que bebessem de suas águas.

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