Transpor as florestas por caminhos mais ou menos arriscados acabou por lançar os andarilhos medievais nas fronteiros da cristandade. Para além dos domínios cristãos existia uma diversidade de povos pagãos e os "infiéis" muçulmanos. Não haveria maior prova de fé que enfrentar tais inimigos. Por trágica ironia, a Palestina , a região mais sagrada para os cristãos , estava sob domínio muçulmano desde o século VII. Grande parte dos acontecimentos descritos pelo Antigo Testamento transcorrem na Palestina. As lutas dos judeus contra seus inimigos ; sua volta à terra de origem após o cativeiro no Egito ; os novos castigos impostos por Deus ; a conquista da cidade de Jerusalém pelos babilônios ; a dispersão dos judeus pelo mundo e a promessa de um retorno definitivo à Terra Prometida eram lembranças guardadas pela Bíblia e transmitidas pelo clero aos cristãos. Ali também havia transcorrido praticamente todo o drama da vida de Cristo , desde seu nascimento em Belém até a crucificação em Jerusalém . Muitos cristãos dirigiam-se à Terra Santa para conhecer e adorar a região teria vivido. Outros , participantes de verdadeiras peregrinações armadas , as Cruzadas , procuraram conquistar pela força das armas os lugares desejados pela fé. Ao mesmo tempo em que realizavam as peregrinações à Palestina , os cristãos mantinham-se atraídos pelas imagens de abundância e beleza do Paraíso Terrestre propagandas pela Igreja. A terra de onde fluíram rios de leite e mel também possuiria a Árvore da Vida e a fonte da juventude , que impediriam a morte e o envelhecimento, além de ouro , prata e todas as pedras preciosas em quantidades extraordinárias . As descrições bíblicas faziam acreditar que o Éden se localizava sobre a mais alta montanha do Oriente , num ponto próximo à Palestina . Para alguns , a montanha que sustentava o Éden era tão elevada que chegava a atingir a esfera da Lua e teria assim ficado a salvo da destruição provocada pelo Dilúvio bíblico. Outros fixavam a localização do Paraíso em alguma ilha fantástica , separada por homens por águas perigosas e assustadoras. De uma ou outra forma , a obsessão pela materialidade desse lugar sonhado traduziu-se em expedições e em relatos de viagens que despertavam grande interesse em todos os níveis da sociedade medieval , dos mais humildes camponeses até os mais poderosos membros da aristocracia senhorial. Mais do que simples fantasias ou delírios de uma sociedade extremamente religiosa , as representações do Paraíso continham os desejos e as expectativas dos homens medievais. Muitas vezes , por trás dessas descrições havia críticas à sociedade da época. A capacidade imaginativa do homem medieval levou-o a elaborar diversos outros fantásticos, na maioria das vezes situados no Oriente. Reinos misteriosos e exóticos , ilhas repletas de riquezas e seres estranhos , povos que praticavam canibalismo e mantinham tipo de relações sexuais eram temas de relatos de viajantes que haviam transposto os limites da cristandade. Por exemplo , no século XII, entre a segunda e a terceira cruzadas, começaram a circular na Europa notícias sobre um rei-sacerdote cristão, possuidor de um rico e poderoso reino situado na Índia. O Preste João, como era chamado, estaria combatendo os muçulmanos a partir do Oriente e teria quase chegado a conquistar a Terra Santa. A proximidade com as terras do Paraíso fazia com que predominasse no reino um ambiente de paz e harmonia, onde se guardavam relíquias sagradas e onde havia uma fonte da juventude que impedia o envelhecimento e proporcionava saúde àqueles que bebessem de suas águas.