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sexta-feira, 26 de abril de 2019

Tudo É Corpo

Analisando as "Meditações Metafísicas" de Descartes , Hobbes aceitou que da proposição "penso" se devia deduzir "existo" , mas discordava da concepção de que o pensar fosse evidência de uma realidade separada e distinta do corpo , da existência de uma substância espiritual. É o que expressa a Descartes em uma de suas objeções :

"[...] não podemos conceber qualquer ato sem um sujeito , assim também não podemos conceber o pensamento sem uma coisa que pense , a ciência sem uma coisa que saiba , e o passeio sem uma coisa que passeie. [De onde se segue] que uma coisa que pensa é alguma coisa de corporal . (Citado em "Monteiro" , Vida e Obra , em Hobbes , p. XI).

Em outras palavras , Hobbes concordava que pensar era uma evidência de que algo existia. Mas existia como corpo, pois , para esse filósofo , o que chama "espírito" não seria  outra coisa senão o resultado do movimento em certos órgãos corporais. Como explica Hobbes em sua obra "Sobre o Corpo" , quando os corpos exteriores afetam o corpo humano e agitam os sentidos , estes transmitem ao cérebro esse movimento ou agitação, que é então enviado ao coração. A partir do coração começaria um movimento inverso , em direção ao exterior , que produziria as sensações propriamente ditas e , delas , as ideias que constituem o conhecimento. Note que, para Hobbes , é pela sensação que se inicia todo processo de conhecimento (concepção que se denomina empirista ). As ideias seriam imagens das coisas impressas na "fantasia corporal" . Assim , a partir das noções de corpo e movimento , o filósofo inglês explicava toda a realidade. Todos os corpos - incluindo os pensamentos - estariam sujeitos , segundo ele , aos nexos causais que determinam seus movimentos. Nada se move por si próprio, seja por uma propensão natural de seguir sua natureza ou essência (como na física aristotélica), seja de forma aleatória (e livre) . Tudo é movido , no sentido de que todo movimento é sempre uma reação ou efeito a uma agente externo ao corpo (ou causa). O mecanicismo que Descartes havia adotado para compreender o mundo exterior ( a res extensa) foi universalizado por Hobbes , abrangendo o material e o que geralmente se considera espiritual. Todo o real existiria no espaço e seria corpo - ou corpo em movimento. Até mesmo a vontade humana não seria livre , pois o querer algo não passaria de uma reação interna a uma ação (ou estímulo) do mundo externo. Desse modo , sem lugar para o acaso e a liberdade , o materialismo hobbesiano caracterizou-se por um profundo determinismo , isto é , pela noção de que todos os fenômenos - materiais e psíquicos - estão interligados e determinados por relações profundas de causa e efeito .

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