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domingo, 14 de abril de 2019

Separação Da Natureza


O que parecia ser uma vantagem tornou-se um problema : a capacidade humana de criar um mundo novo para si foi levada às últimas consequências dos últimos séculos , culminando na crise ecológica atual, que ameaça a sobrevivência do planeta e da própria espécie humana. Considerando-se superior ao resto dos animais e único senhor da natureza , o ser humano passou a explorá-la impiedosamente . E , negando seu próprio caráter de ser vivente , vem construindo para si um mundo altamente urbanizado e tecnologizado , cada vez mais artificial e separado da natureza. Nem sempre foi assim. A relação dos seres humanos com a natureza e o universo era distinta no passado. Predominavam a percepção de que as pessoas são parte da natureza e a noção de que a razão humana constitui apenas uma expressão da racionalidade universal. Como analisou o historiador da ciência estado-unidense Morris Berman , antes da revolução científica , ocorrida a partir do século XVI , as pessoas viviam em um "mundo encantado" , onde pedras , árvores e rios eram vistos como portadores e doadores de vida. E elas se sentiam em casa nesse mundo maravilhoso e ordenado (o cosmos). Assim, cada uma participava diretamente da trama da vida . Seu destino pessoal estava ligado ao cosmos , e essa inter-relação conferia sentido à vida de todos . Havia , enfim, entre o ser humano e a natureza uma integração psíquica que há muito deixou de existir. Com o progressivo "desencantamento" do mundo, vinculado à mentalidade científica vigente - de separação radical entre observador e objeto observado -, o ser humano tornou-se um estranho na natureza : se não sou minhas experiências e minhas conclusões sobre o mundo, não faço parte deste mundo (cf, Berman, The Reenchantment Of The World).  A reação a essa visão de mundo, que coloca o ser humano como centro de todas as coisas e de todos os interesses (antropocentrismo) - taxada de reducionista por seus críticos-, tem ocorrido dentro e fora da ciência. Ela se expressa tanto em movimentos ecologistas , socioambientais e de defesa dos direitos dos animais como em algumas das novas abordagens da ciência nas últimas décadas.



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