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domingo, 7 de abril de 2019

Autoridade Em Ética | Bertrand Russell

Pode-se dizer , em tese , que a essência da ética provém da pressão da comunidade sobre o indivíduo. O homem pouco tem de gregário, e nem sempre sente , instintivamente, os desejos comuns a sua grei. Esta , ansiosa para que o indivíduo aja no seu interesse , tem inventado vários artifícios com o fim de harmonizar os interesses individuais como os seus próprios. Um destes é o governo, outro é a lei e o costume , e  o outro é a moral. A moral torna-se uma força eficiente de duas maneiras : primeiro, através do louvor e da censura dos que o cercam e das autoridades ; e segundo, através do autovalor e da autocensura , os quais são chamados de "consciência". Por meio destas várias forças - governo, lei , moral - o interesse da comunidade se faz sentir sobre o indivíduo [...] . Chego agora a meu último problema , que se relaciona com os direitos do indivíduo , em contraposição aos da sociedade.  A ética , nos o dissemos, é parte de uma tentativa para tornar o homem mais gregário do que a natureza o fez. As pressões que a moral exerce sobre o indivíduo são, pode-se dizer , devidas ao gregarismo apenas parcial da espécie humana. Mas isto é uma meia verdade. Muitas de suas melhores coisas vêm do fato de não ser ela completamente gregária. O homem tem seu valor intrínseco , e os melhores indivíduos fazem contribuições para o bem geral que não são solicitadas e que, muitas vezes, chegam a sofrer reação por parte do resto da comunidade. É , pois , uma parte essencial da busca do bem geral o permitir aos indivíduos liberdades que não sejam , evidentemente , maléficas aos outros. É isto que dá origem ao permanente conflito entre a liberdade e a autoridade, e estabelece limites ao princípios de que a autoridade é a fonte da virtude. ¤Bertrand Russell. A sociedade humana na ética e na política. Título original : Human Societu in Ethics And Politics. Trad. Oswaldo de Araujo Souza. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1956.

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