Em sua obra Ensaio acerca do entendimento humano, Locke combateu duramente a doutrina cartesiana segundo a qual o ser humano possui ideias inatas. Ao contrário de Descartes , defendeu que nossa mente, no instante do nascimento , é como uma tábula rasa. O substantivo significa "tábua" ou "placa de madeira" ou de outro materia ; o adjetivo rasa quer dizer "plana" , "lisa" . Assim , a expressão tábula rasa usada por Locke tem o significado de "tábua lisa", isto é , tábua na qual nada foi escrito nem gravado .
Ao nascer , nossa mente seria como um papel em branco , sem nenhuma ideia previamente escrita. Locke retomava , assim, a tese empiricista segundo a qual nada existe em nossa mente que não tenha sua origem nos sentidos. O filósofo defendeu que as ideias que possuímos são adquiridas ao longo da vida mediante a experiência sensível imediata e seu processamento interno. Desse modo , o conhecimento seria constituído basicamente por dois tipos de ideias :
¤ ideias da sensação - são nossas primeiras ideias , aquelas que chegam à mente através dos sentidos , isto é , quando temos uma experiência sensorial , constituindo as sensações. Essas ideias seriam moldadas pelas quantidades próprias dos objetos externos. Por exemplo Locke entende , por exemplo , as ideias de amarelo , branco , quente , frio , mole , duro , amargo , doce etc. ¤ ideias da reflexão- são aquelas que resultam da combinação e associação das sensações por um processo de reflexão , de tal maneira que a mente vai desenvolvendo outra série de ideias que não poderiam ser obtidas das coisas externas. Seriam ideias como "a percepção, o pensamento, o duvidar, o crer, o racionar" (Locke , Ensaio acerca do entendimento humano, p. 160). Assim, a reflexão seria nosso "sentido interno" , que se desenvolve quando a mente se debruça sobre si mesma , analisando suas próprias operações. Das ideias simples , a mente avança em direção a ideias cada vez mais complexas. Porém , para Locke , de qualquer maneira a mente sempre tem "as coisas materiais externas , como objeto de sensação , e as operações de nossas próprias mentes, como objeto da reflexão" (Ensaio acerca do entendimento humano, p. 160). O filósofo admitia , no entanto , que nem todo conhecimento limita-se , exclusivamente , à experiência sensível. Considerava , por exemplo, o conhecimento matemático válido em termos lógicos , embora não tivesse como base a experiência sensível. Nesse sentido , Locke não era um espiricista radical.