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segunda-feira, 8 de julho de 2019

A Colônia Purgatório

A expansão marítima e a vida nas colônias americanas reformularam as visões acerca do purgatório. As travessias de mares e oceanos e o segredo eram vistos como uma espécie de rito de passagem, no qual os sofrimentos vividos serviam para a limpeza das almas. Grande parte dos conquistadores portugueses , voluntários, fugidos ou degredados, tinha  como objetivo retornar à Metrópole. Os costumes dos índios, a violência que imperava na terra, os desmandos dos poderosos e dos funcionários da coroa, as tentações da carne abaixo da linha do Equador, até mesmo a natureza hostil, repleta de animais selvagens e peçonhentos, e um clima mais quente o que o europeu compunha um cenário que se construiu simultaneamente as projeções paradisíacas . Nesse cenário idealizado, a colônia deixava, pouco a pouco, decompor as imagens edênicas e passava a estar associada ao Purgatório. A maior complexidade da sociedade colonial, provocada pelo desenvolvimento das atividades canavieiras, alterou as representações elaboradas inicialmente. Se  na intenção dos brancos a América portuguesa era um lugar de passagem, mesmo que a maioria acabasse por se fixar nos trópicos para os escravos a fixação era definitiva. A colônia não era o purgatório de todos. A situação dos indígenas, os primeiros a serem escravizados pelos portugueses despertou reflexões da parte dos conquistadores. A questão inicial referia-se ao tipo de homem que os europeus  encontraram no novo mundo. Por sua suposta inocência e pelos costumes tão particulares, tidos  como remanescentes do Jardim do Éden, como a posse de papagaios, muitos consideravam que fossem criaturas desprovidos de alma, quase animais. Em 1537, o Papa reconheceu a plena condição humana dos ameríndios fornecendo argumentos para conter as violências que ocorriam sobretudo na América espanhola. O cenário idílico das maravilhas da terra começou a ser desfeito a partir da tomada de consciência por parte de alguns conquistadores, das violências da escravidão. A crueldade e o extermínio dos índios levaram alguns a criticar a forma como era conduzida a colonização no novo mundo. A naturalidade com que se concebia a utilização do trabalho escravo dos negros da terra, foi cedendo lugar reflexões e justificativas a respeito da justiça do seu cativeiro. Uma vez que os indígenas eram considerados portadores de uma cultura inferior e desconhecedores da doutrina cristã muitos legitimavam seu cativeiro como forma de cristianizá-los e salvá-los do pecado. Os aldeamentos, realizados por membros de diversas ordens religiosas mas sobretudo pelos Jesuítas constituiu uma ritualização que lembrava o purgatório : retirados do sertão, do caos das selvas os nativos eram deslocados para lugares onde poderiam ser admitidos como membros da igreja que receberiam os ensinamentos e os trabalhos que permitiriam a eliminação de seus pecados. A igreja passava a ter a mesma função simbólica e prática do purgatório. 

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