Advogado , jornalista e artista de múltiplos talentos - dedicou-se à oratória , à escultura , à música e ao desenho - , Raul Pompéia , autor de "O Ateneu" , sua obra principal , é considerado um dos poucos escritores brasileiros , o único de seu tempo , que seguiu alguns dos caminhos abertos pelo Realismo psicológico de Machaco de Assis , que estudaremos em breve. Leia a opinião de Lúcia Miguel-Pereira a respeito do surgimento desse romance : " Em 1888 , quando culminava o Naturalismo , começou a "Gazeta de Notícias" a publicar um romance estranho, diferente de tudo o que habitualmente se escrevia: 'O Ateneu' , de Raul Pompéia . [...] Misto de romance e memória , ' O Ateneu' também na feitura era complexo : oscilava entre as insinuações de Machado de Assis e as ousadias dos naturalistas , variava no estilo da sobriedade ao rebuscamento ; a julgar-se pelo tema, parecia um 'roman à clef' (romance com uma chave, ou seja , em que personagens reais aparecem sob nomes fictícios), caricatura de um colégio famoso na época , o Colégio Abílio , uma crítica aos internatos , à sua ação desmoralizadora ; em essência , porém, nada mais era do que o drama da solidão". O componente memorialístico do livro deve-se a um episódio marcante da vida de Raul Pompéia , pelo trauma que lhe causou. Aos dez anos tornou-se aluno de um famoso internato carioca, o Colégio Abílio, cujo diretor , o Barão de Macaúbas , era conhecido por sua severidade e prepotência. Assim, reconstruir as atrocidades cometidas nos bastidores do grande colégio da época , frequentado pela fina flor da socidade brasileira , criticar o sistema educativo do colégio , com suas punições , seu autoritarismo , o regime de hipocrisia e de espionagem instituído pelo diretor , constitui uma das faces da obra. Nela o barão de MACAÚBAS transfigurou-se literariamente em Aristarco , o diretor do Ateneu. Raul Pompéia , por sua vez , transfigurou-se literariamente em Sérgio , o adulto que narra em 1¤ pessoa sua própria história , desvendando as raízes de seu sentimento de solidão , de inadaptação , de incomunicabilidade com os seres humanos. Aqui aparece a outra face do romance , em que predomina a interiorização, a percepção psicológica e de caráter impressionista.