Dissemos antes que, por meio de códigos e sistemas linguísticos , aprendemos a organizar internamente as inumeráveis vivências do que nos acontece durante a vida. Quase sem notar , vamos dizendo a nós mesmos : "Isso é assim, isso é de outra maneira", "isso eu sou , isso eu não sou", "Isso eu quero, isso eu não quero", "Isso eu posso fazer , isso eu não posso fazer" , e assim por diante. Você pode perceber , portanto , que , a partir do domínio linguístico , cada um de nós é um observador que formula interpretações das experiências que tem (mesmo que de maneita pouco consciente) e com elas vai modelando a própria identidade , a forma particular de ser e de agir. Em outras palavras , as interpretações que cada observador dá a suas experiências geram , ao mesmo tempo, o tipo de observador em que ele se torna. E o tipo de observador em que ele se torna vai determinar o tipo de interpretações que será capaz de fazer. Vamos ilustrar essa ideia. Tomemos como exemplo, uma pessoa que , após alguns "fracassos" ou "frustrações" (interpretações de sua experiência), passa a observar-se de determinado modo , repetindo para si mesma : "Sou tímida". Ao adotar esse discurso, estará forjando sua própria identidade e realidade futura. Se ela acredita que é tímida , não terá outra opção senão conduzir-se com timidez diante dos outros e repetir os "fracassos" anteriores. Isso significa que existe uma circularidade constante entre o que pensamos ou dizemos (nossas interpretações sobre as coisas e nós mesmos) , a maneira como atuamos e a identidade que forjamos. É nessa circularidade linguística que , em grande parte , criamos e recriamos constantemente a nós mesmos , podendo tanto reforçar modelos antigos , como promover nossa própria transformação.