Karl Marx observou que produção é ao mesmo tempo consumo, pois quando o trabalhador produz algo , além de consumir matéria-prima e os próprios instrumentos de produção, que se desgastam ao serem utilizados, ele também consome suas forças vitais nesse trabalho. Por outro lado , completa Marx , consumo é também produção, pois os homens se produzem através do consumo. Isso se verifica de forma mais imediata na nutrição, processo vital pelo qual consumimos alimentos para "produzir" nosso corpo. Porém , o consumo nos produz não apenas no plano físico , mas também nos aspectos intelectual e emocional , como ser total. Há , portanto , uma relação dialética entre consumo e produção. A produção cria não só bens materiais e não materiais , mas também o consumidor para esses bens. Se não fosse assim, a produção não teria sentido. Ou seja , quando se produz algo , é preciso que alguém consuma essa produção. Por isso , a publicidade (divulgação de produtos nas diversas mídias , como jornal, TV , volantes etc.) é elemento fundamental das sociedades capitalistas , uma vez que é por meio delas que se impulsiona nos indivíduos a necessidade de consumir mercadorias. E aí começa uma "roda-vida" : a produção cria o consumo , o consumo cria a necessidade de uma nova produção , e assim por diante. Essa dupla criação de necessidades (a produção criando o consumo e o consumo criando a produção) gera a "reprodução" do sistema capitalista. Mas onde está a alienação no consumo? Se entendemos que os homens se formam interagindo com o mundo objetivo , consumir significa participar de um patrimônio construído pela sociedade . Assim, além de atender às necessidades individuais , o consumo expressaria também a forma pela qual o indivíduo está integrado à sociedade. No entanto, nas sociedades contemporâneas , observamos a exclusão da maior parte das pessoas do consumo efetivo do patrimônio produzido, em vista das desigualdades econômicas e sociais. Além disso, é possível constatar que o circuito produção-consumo não visa atender prioritariamente as necessidades individuais , mas sim as necessidades de expansão do sistema capitalista , de busca permanente de lucratividade , o que levou à mercantilização de todas as coisas. Nesse sistema, como aponta o historiador contemporâneo Immanuel Wallerstein em "O Capitalismo Histórico" , há algo de absurdo na "lógica capitalista":
"[...] acumula-se capital de se acumular mais capital . Os capitalistas são como camundongos numa roda , correndo sempre mais depressa a fim de correrem ainda mais depressa. Nesse processo, algumas pessoas sem dúvida vivem bem , mas outras vivem miseravelmente , e mesmo as que vivem bem pagam um preço por isso." (p. 34).