A identificação do sujeito é fundamental para a compreensão adequada do conteúdo de um enunciado. Considere , por exemplo, estes famosos versos:
"Ouviram do Ipiranga as Margens Plácidas
De um povo heroico o brado retumbante"
(Osório Duque Estrada)
Será que , ao cantá-los , você sabe exatamente o que eles estão dizendo? Esse trecho é constituído por uma única oração, que está na ordem indireta. Mas , afinal, a respeito de quem(m) o poeta está falando? Ou seja , qual é o sujeito de "ouviram" ? O fato de o verbo iniciar a oração e apresentar-se na 3¤ pessoa do plural pode induzir o leitor a pensar que o sujeito não seria "um povo heroico"?
Essa hipótese será facilmente descartada se observarmos que esse termo está precedido por preposições (de) e se levarmos em conta que o núcleo do sujeito , por ser um elemento independente na estrutura sintática , não pode ser precedido de preposição. Além disso, se "um povo" heroico" (termo no singular) fosse o sujeito , obviamente exigiria o verbo no singular , e não no plural. O que dificulta entender com clareza essa oração é a forte inversão de seus termos. Na ordem direta ela seria assim :
"As margens plácidas do Ipiranga ouviram
o brado retumbante de um povo heroico."
Assim fica fácil , não é mesmo? O sujeito é "as margens plácidas do Ipiranga"; elas é que ouviram o brado retumbante de um povo heroico. O autor empregou , nesse trecho , uma figura de linguagem chamada personificação, por meio da qual atribuiu a um ser inanimado (as margens) uma característica de seres vivos : a capacidade ouvir. Para concluir essa análise , responde : se o "as" tivesse o acento indicativo da crase , o que mudaria na estrutura sintática e no sentido desses versos?