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sábado, 16 de março de 2019

Discurso Indireto Livre


O discurso indireto livre é mais complexo. Muitas vezes , não sabemos quem está falando , se o narrador ou se a personagem. Como se dá o processo do discurso indireto livre? Como o próprio nome revela , trata-se de um discurso indireto : o narrador está traduzindo , com suas palavras , em 3¤. pessoa , a fala da personagem . Porém , sem anúncio prévio , aparecem as palavras da personagem , em 1¤. pessoa , no meio do discurso do narrador , como se a própria voz da personagem aparecesse permeando a fala  do narrador , ou como se pudéssemos ouvir o que ela está pensando ou o fluxo de sua linguagem interior. Dois exemplos:

"Enlameado até a cintura , Tiãozinho cresce de ódio. Se pudesse matar o carreiro... Deixa eu crescer!... Deixa eu ficar grande! ... Hei de dar conta deste danisco...
Se uma cobra picasse seu Soronho... Tem tanta cascavel nos pastos... Tanta urutu , perto de casa... Se uma onça comesse o carreiro, de noite... Um onção grande , da pintada... Que raiva!...
Mas os bois estão caminhando diferente. Começaram a prestar atenção , escutando a conversa de boi Brilhante.

- Guimarães Rosa. Sagarana. Rio de Janeiro, José Olympio, 1976.

Mas era primavera. Até o leão lambeu a testa glabra da leoa. Os dois animais louros. A mulher desviou os olhos da jaula, onde só o cheiro quente lembrava a carnificina que ela viera buscar no Jardim Zoológico. Depois o leão passeou enjubado e tranquilo , e a leoa lentamente reconstituiu sobre as patas estendidas a cabeça de uma esfinge.
"Mas isso é amor , é amor de novo" , revoltou-se a cabeça de uma esfinge. "Mas isso é amor , é amor de novo", revoltou-se a mulher tentando encontrar-se com o próprio ódio mas era primavera e dois leões se tinham amado. Com os punhos nos bolsos do casaco do casaco, olhou em torno de si , rodeada pelas jaulas, enjaulada pelas jaulas fechadas. Continuou a andar . Os olhos estavam tão concentrados na procura que sua vista às vezes se escurecia num sono , e então ela se refazia como na frescura de uma cova.

-Clarice Lispector . Laços de Família. Rio de Janeiro , José Olympio , 1979.

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