Os questionamentos sobre a natureza do universal e do particular deram origem a um debate filosófico que ficou conhecido como "aquarela dos universais" e que se tornou bastante intenso na época medieval. Os posicionamentos em relação à realidade ou não dos universais podem ser divididos em duas grandes tendências gerais: o realismo , que afirma a realidade dos universais ; e o antirrealismo , para o qual os universais se reduzem a operações do intelecto. Na visão dos filósofos realistas , os universais são reais , isto é, eles existem e se distinguem das coisas particulares nas quais são princípios de determinação ou atributos. Essa afirmação da realidade dos universais pode ser radical , como no pensamento platônico , ou moderada , como na filosofia aristotélica. Para Platão , como abemos , as formas são subsistentes e sua existência é anterior à existência dos objetos do mundo sensível. Assim, só poderíamos dizer que um objeto é bom , belo , uno e verdadeiro na medida em que participa de ideias de bem , beleza , unidade e verdade, que existem em si e por si mesmas desde sempre. Aristóteles também defende a realidade dos universais, mas em uma perspectiva diferente da teoria platônica das formas: na concepção aristotélica , os universais são imanentes às próprias coisas de que são exemplos e dependem delas para sua existência . Assim , para esse pensador , a humanidade de Maria, Angélica e Pedro seria real , mas dependente desses sujeitos. Sem seres humanos não haveria humanidade, assim como sem objetos brancos não haveria brancura. O debate em torno da realidade dos universais teve início com o filósofo romano Anício Mânlio Torquato Severino Boécio (c. 480- c. . 525) , que traduziu para o latim o "Isagoge , uma curta introdução ao estudo das categorias de Aristóteles" , escrita pelo filósofo grego Porfírio de Tiro (c. 234-c. 304|309) . O texto trata, entre outras coisas , de gêneros e espécies , que são categorias pelas quais podemos dar definição às coisas . O ser humano , por exemplo , pode ser definido como um animal (gênero) racional (espécie) . Ao se perguntar se o gêneros e as espécies seriam substâncias , Porfírio havia preferido não opinar. Boécio compreendeu o problema : substância é individual e os gêneros e as espécies , sendo atributos de diferentes indivíduos , não podem ser substâncias ; por outro lado , se não são substâncias , então não possuiriam realidade , seriam pensamentos sem objeto. Boécio deu uma solução a esse problema argumentando que o intelecto humano seria capaz de abstrair e conhecer separadamente atributos que nas próprias coisas não são separáveis. Tomemos , por exemplo , um leão em particular. Dele podemos dizer que é um ser material , corpóreo , vivente , animal e feroz . Mas a materialidade , a corporeidade , a vida , a animalidade e a ferocidade , que são atributos universais, encontram-se em um leão em particular ligados de modo indissociável . Em outras palavras , nós somos capazes de e pensar à parte os gêneros e as espécies que , nos indivíduos , não têm separada. Embora Boécio tivesse explicado que o intelecto conhece os universais por meio da abstração , ele não chegou a explicar como se dá esse processo . Essa questão , que Boécio deixou em aberto , seria retomada séculos depois em um dos mais acirrados debates filosóficos da época medieval. O realismo em relação aos universais foi adotado de forma radical no século XII por Guilherme de Champeaux (c. 1070-1121) , um filósofo e teólogo francês Roscelino de Compiègne (c. 1050-c. 1125) , que propunha uma concepção antirrealista do universal , chamada de nominalismo . Para Roscelino , os universais se reduziriam à emissão de sons - as palavras ou nomes - sob os quais a inteligência humana agrupa classes de objetos. Com a palavra cachorro , como latir , ter quatro patas , abanar o rabo , etc., mas não existiria uma "cachorreidade", isto é , uma realidade do "ser humano" independente da percepção humana. Em princípio , a concepção realista de Champeaux tinha mais aceitação por duas razões . Primeiro , porque ele era docente em Paris, em uma instituição de imenso prestígio na época . Segundo , porque o nominalismo de Roscelino tinha sérias implicações teológica , levando à negação da substancialidade das três pessoas da Santíssima Trindade. Contudo , Champeaux teve como aluno Pedro Aberlado (1079-1142) , teólogo e filósofo francês que havia sido aluno de Roscelino e que colocaria sérios desafios à perspectiva realista dos universais.