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quarta-feira, 15 de abril de 2020

O Sentido da Vida E A Busca Do Prazer | Filosofia


Para muitos filósofos , o objetivo maior da vida humana é buscar o que dá prazer e evitar o que causa dor. Trata-se de um doutrina chamada "hedonismo" . Em geral , os filósofos hedonistas nos aconselham a não pensar na morte , e sim na vida que está sendo vivida aqui e agora. Usufuir a vida em tudo o que ela tem de bom e enquanto ela durar seria o propósito maior da existência humana , ideal muito bem expresso pelo poeta Horácio , que , no século I a.C., em um de seus poemas , diz "colhe o dia", ou seja , aproveite o momento presente e não pense no futuro. Dito assim , poderíamos sr levados a pensar que os filósofos hedonistas seriam contrários a qualquer princípio moral . Poderíamos vê-los como defensores de um egoísmo sem limites pelo qual o ser humano se entregaria à satisfação de todo tipo de apetite , em uma busca desenfreada pelo prazer. A realidade , porém , é outra. Embora realmente alguns filósofos hedonistas tenham defendido o egoísmo e a busca do prazer individual , a maioria deles assume uma posição mais moderada e até favorável a uma vida rígida. 
Vejamos o que escreveu o filósofo grego Epicuro de Samos em uma carta a seu discípulo  e amigo Meneceu:

"Acostuma-se à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo o bem e todo o mal residem nas sensações , e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera , sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade. Não exite nada terrível na vida para quem está perfeitamente convencido do que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte , não porque a chegada desta lhe trará sofrimento , mas porque o aflinge a própria espera : aquilo que não nos perturba quando presente não deveria aflingir-nos enquanto está sendo esperado. Então , o mais terrível de todos os males , a morte , não significa nada para nós , justamente porque , quando estamos vivos , é a morte que não está presente ; ao contrário , quando a morte está presente , nós é que não estamos. A morte , portanto , não é nada , nem para os vivos , nem para os mortos , já que aqueles ela não existe , ao passo que estes não estão mais aqui . E , no entanto , a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males , ora a deseja como descanso dos males da vida. O sábio , porém , nem desdenha viver , nem teme deixar de viver; viver não é um fardo e não viver é um mal. [...] É por essa razão que afirmarmos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito , nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano , em razão dele praticamos toda a escolha ou recusa , e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor. Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato , nem por isso escolhemos qualquer prazer há ocasiões em que evitamos muitos prazeres , quando deles advém efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres , se um prazer maior advier de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto , todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso , nem todos são escolhidos ; do mesmo modo , toda dor é um mal , mas nem todas devem ser evitadas. Convém , portanto , avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões  em que utilizamos um bem como se fosse um male, ao contrário , um mal como se fosse um bem. "

- Epicuro . Carta sobre a felicidade. São Paulo : Ed. da Unesp, 2002.p. 27-31;37-39.

Para epicuro , portanto , o sentido da vida reside na busca pelo prazer , entendida não como um impulso cego , mas como ação do sujeito em benefício próprio guiada pela razão. Esse ideal de felicidade hedonista foi retomado em outras épocas da história e interpretado de acordo com contextos sociais e políticos bastante interpretado  de acordo com contextos sociais e políticos bastante diferentes daquele em que vivia Epicuro. Jeremy Bentham e John Stuart Mill , por exemplo , foram pensadores do século XIXI que defendiam a ideia de que ações humanas deveriam visar ao maior grau possível de felicidade. Nos dias de hoje , filósofos , como o francês  Michael Onfray  ou a espanhola Esperanza Guisán defendem princípios semelhantes aos de Epicuro , mas tem em vista questões atuais , como a pluralidade cultural e a igualdade de gêneros. Poderíamos nos perguntar , então , a qual dos dois modelos corresponde o hedonismo :  o quebra-cabeça ou o mosaico ? Os filósofos hedonistas propõem um ideal que deve ser aceito para a vida? Mas essas são perguntas difíceis de responder, porque há vários tipos e graus  de hedonismo . Se tomarmos uma posição radical de extremo egoísmo , talvez possamos ver uma compreensão em que cabe a cada um de nós  tarefa de produzir o próprio sentido da vida , aproximando-se assim do modelo do mosaico . Mas , ao interpretar o prazer como um princípio comum a todos ,e  ao frequentemente inspirar ações visando ao bem comum , os hedonistas em geral se aproximam muito mais do modelo do quebra-cabeça. 

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