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quarta-feira, 1 de abril de 2020

A Teoria Dos Atos da Fala


Vimos que a Filosofia contemporânea é caracterizada pela existência de duas grandes tendências , a Filosofia analítica e a Filosofia continental , e o diálogo entre elas é muitas vezes difícil. Um dos raros momentos de intenso debate entre representantes dessas tendências aconteceu nos anos 1970 , por ocasião da publicação em inglês de um texto de Jacques  Derrida intitulado "Assinatura, evento , contexto" , que discutia a teria dos atos da fala proposta pelo filósofo John Austin. Vimos também que Wittgenstein , em seu Tractatus , enfatizava a função designativa da linguagem : a linguagem serviria para representar a realidade . Mas em uma obra posterior , Investigações Filosóficas, publicada postumamente, Wittgenstein se distancia de sua concepção anterior e apresenta a Linguagem como uma atividade humana , como andar , passar , etc. Ou seja , na nova perspectiva , a linguagem passava a ser considerada como forma de ação . Austin avançou sobre essa concepção propondo conceitos cm base nos quais se pode fazer um estudo da linguagem comum.  Austin chamou as proposições cujo propósito é afirmar ou negar uma realidade de constatativas , ou seja , que têm por objetivo a asserção de um enunciado . Mas para ele a linguagem não se esgotava nessa função . Com ela é possível fazer outras coisas: exortar , advertir , perguntar, etc. Em uma cerimônia de casamento , por exemplo , quando o noivo responde "sim" , ele está não apenas comunicando uma ideiaa , mas também efetuando a ação de se casar. Assim , quando executamos um ato locucionário , ou seja , quando dizemos uma frase , podemos ao mesmo tempo executar um ato ilocucionário , isto é , executar a ação de protestar ou advertir outra pessoa. Se alguém pisa no seu pé e você diz "Ei, você está pisando no meu pé!", você está executando um ato locucionário e um ato ilocucionário . Ou seja, por meio da linguagem nós não comunicamos nosso pensamento , mas podemos também agir e promover a ações de outros sujeitos. A essas sentenças , Austin chama de performativas. A diferença entre proposições constatativa e performativas pode ser muito sutil , e até arbitrária. Por exemplo : a frase "Prometo pegá-lo amanhã" trata-se  de uma frase performativa, pela qual se leva a efeito a ação de prometer. Mas posso dizer "Pagareo você amanhã" e esta é uma sentença com características de sentença constatativa, mas com o mesmo efeito da performativa "Prometo pagar você amanhã". O que podemos afirmar para esse exemplo seria válido para as sentenças constatativas de maneira geral : todas constituiriam casos particulares de sentenças performativas. Assim , podemos mensurar a reviravolta operada por Austin se pensarmos que esses enunciados performativas. Assim, podemos mensurar a reviravolta operada por Austin se pensarmos que esses enunciados performativos, agora colocados em primeiro plano , haviam sido até então , considerados desinteressantes para a Filosofia. Outro aspecto importante da teoria da linguagem de Austin é que , para ele , um ato de fala adquire significado em função das circunstâncias em que é proferido . Desse modo , o conhecimento do contexto ao qual determinado ato de fala se articula do contexto ao qual determinado ato de fala se articula torna-se fundamental para a compreensão de seu sentido :

[...] por muito tempo os filósofos negligenciaram esse estudo , tratando todos os problemas como problemas de "uso locucionário", e de fato a "falácia descritiva" [...] já faz alguns anos que temos notado cada vez mais claramente que a ocasião de um elocução é determinante , e que as palavras usadas devem até certo ponto ser "explicadas" pelo "contexto" no qual elas foram pensadas para ser ou ter sido ditas [...] . Ainda assim temos talvez a tendência de dar essas explicações em termos de "signficados de palavras". 

-Austin , John L. How to do things with words. Oxford: Oxford University Press, 1962. p. 100. (Tradução do autor).

A crítica de Derrida à teoria dos atos da fala não nega sua validade , mas radicaliza algumas posições que Austin relutava em assumir . De acordo com Derrida , Austin teria dado um grande passo ao enfatizar a importância de contexto social em que a comunicação se dá . Derrida insiste , contudo , na indeterminação do contexto . De acordo com Derrida , portanto, o significado não é indeterminado , mas estabelecido pelo contexto . O contexto é que pode ser "desconstruído", não admitindo assim nenhum tipos de determinação. 

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