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quinta-feira, 6 de junho de 2019

Kongos E Os Portugueses


Os Kongos viviam ao seu jeito quando o capitão português Diogo Cão chegou à foz do rio Zaire (chamado pelos portugueses de Congo) em 1482. Logo que desembarcou no território negro, o capitão levantou um marco de pedra com uma cruz na ponta para dizer que, a partir daquela data, a terra passava pertencer ao rei de Portugal, Dom João II. No primeiros contato , o ManiKongo , talvez por temor das armas de fogo dos portugueses, os recebeu cordialmente. Aproveitando-se disso, os comerciantes portugueses começaram a interferir na política africana. Com a morte do ManiKongo, abriu-se uma disputa pelo trono entre seus dois filhos. Os comerciantes portugueses ajudaram um deles, Nzinga Mbemba, a vencer o irmão nessa disputa. Logo que começou a reinar, em 1505, Nzinga Mbemba converteu-se ao cristianismo e adotou o nome português Affonso. A partir de então, estudou dez anos com os padres em Mbanza  Kongo, aprendendo a falar e a escrever bem em português. Affonso I (1505-1543) procurou adquirir os conhecimentos e as armas que vinham da Europa, talvez pensando em fortalecer seu reino. Com essa intenção também enviou jovens nobres africanos para estudar em Portugal e escreveu ao rei português pedindo que enviasse missionários, médicos e professores ao seu país. De Portugal, porém, lhe vieram principalmente traficantes interessados em conseguir homens, mulheres e crianças para escravizar e vender. A escravidão também corrompia as autoridades. Qualquer nativo do Kongo que fosse acusado de adultério , feitiçaria ou conspiração era condenado a tornar-se escravo . Foi então que o comércio de escravos começou a dizimar a África. Os escravizados lotavam os navios - chamados mais tarde de navios Negreiros - ancorados em Mpinda, principal porto do Kongo. Ao aperceber-se disto, o rei africano Affonso escreveu várias cartas ao rei de Portugal para reclamar que milhares de Kongos estavam sendo levados acorrentados para o outro lado do Atlântico (América) . Vejam o que ele diz ao rei de Portugal numa carta de 1526:

"Dia a dia, os traficantes estão raptando nosso povo - crianças deste país , filhos de nobres e vassalos, até mesmo pessoas de nossa própria família. (...) Essa forma de corrupção e vício está tão difundida que nossa terra acha-se completamente despovoada (...) É nosso desejo que este reino não seja um lugar de tráfico ou de transporte de escravos."

(Hochschild , Adam . O Fantasma do rei Leopoldo : uma história da cobiça , terror e heroísmo na África Colonial. p.22.)

O rei de Portugal não deu ouvidos ao rei do Kongo e o tráfico continuou intenso. O ManiKongo Affonso, então, tentou apelar diretamente ao Papa para que proibe-se o comércio de escravos, mais assim que os seus emissários chegavam a Lisboa eram detidos e não conseguiam seguir viagem até o Vaticano. Assim, depois da morte de Afonso, o rei do Congo continuou declinando e servindo de sementeira para o tráfico de seres humanos. Em 1665, os Kongos tentaram uma revolta antilusitana, mas foram vencidos pelos portugueses. No século XIX, o território do antigo e próspero Reino do Congo foi ocupado militarmente e transformado em várias colônias europeias. 

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