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quinta-feira, 13 de junho de 2019

Estudo Dos Principais Romances Machadianos


Escritas após a sua morte por um narrador-personagem , Brás Cubas , estas "Memórias Póstumas"... constituem um grandioso romance , de leitura difícil mas profundamente enriquecedora. O fato de Brás Cubas colocar-se como um "defunto autor" , isto é , como alguém que conta a sua vida de além-túmula , dá-nos a impressão de que este relato seria caracterizado pela isenção, pela imparcialidade de quem já não tem necessidade de mentir , pois deixou o mundo e todas as suas ilusões. Entretanto , esta é um das famosas armadilhas machadianas contra a credulidade do leitor ingênuo e romântico de sua época. Portanto, uma das chaves para compreender a obra é justamente desconfiar do narrador , colocar em dúvida a veracidade do que conta, prestando atenção em algumas "pistas" que denunciam suas mentiras , seus exageros , sua "mania de grandeza". Assim, poderemos perceber os sentidos mais profundos que atravessam o romance , por detrás da ironia fina e implacável de seu criador. Espécie de antimodelo, de personagem-símbolo da ironia machadiana quanto ao ideal burguês de "vencer na vida" a figura de Brás Cubas constitui uma inversão da travessia dos heróis burgueses , tematizados pela literatura realista. Esses heróis , que aparecem nos romances de Stendhal e Balzac, conseguem ascensão social e econômica , pagando por ela o preço do fracasso, no plano afetivo. Com eles o romance realista tem como temática o velho dilema burguês de se preferir o amor ou o dinheiro , utilizando um processo narrativo de caráter documental, fotográfico , racionalista. Machado de Assis , ao escolher a situação fantástica de um morto que conta histórias ,   e que mesmo estando do outro lado da vida procura mais "parecer" do que "ser", isto é , que mente , ilude e distorce os fatos , escondendo suas misérias para que sejam vistas como superioridade , questiona tanto a forma quanto o conteúdo do Realismo tradicional. Em relação à forma , põe em xeque o mito racionalista da neutralidade do sujeito , da sua isenção perante o que narra , mostrando a parcialidade implícita do ato de narrar. Em relação ao conteúdo , transcende os modelos literários consagrados de sua época , vendo no homem burguês um ser humano , com todas as suas imperfeições , complexidades, contradições. Assim, inaugura um Realismo peculiar , que se aprofunda no mergulho em busca do real , deixando de lado todas as suas aparências enganadoras , todas as suas esquematizações simplificadoras.  Além da negação do herói e da estrutura tradicionais da literatura realista , a obra questiona os modelos literários e ideológicos importados pelo Brasil, fazendo a paródia das doutrinas positivistas e determinadas , por exemplo, através da filosofia do Humanismo e de seu criador , o filósofo Quincas Borba , que reaparece em "Quincas Borba".

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