Na estruturação sintática dos textos , dois aspectos são relevantes quanto ao emprego das orações substantivas. Um deles relaciona-se ao emprego dessas orações para apresentar indiretamente determinadas ideias ou informações. Compare , por exemplo, estes dois enunciados , comuns em textos jornalísticos :
1- Inflação cairá no próximo mês.
2-IBGE prevê que inflação cairá no próximo mês.
Do ponto de vista da hierarquia das camadas gramaticais , tem-se , em 1 , uma oração independente; em 2 , essa oração passa a uma camada inferior da estrutura sintática (perde sua autonomia) , pois , dentro desse enunciado maior , ela exerce papel de elemento sintático, inteiro , como objeto direto do verbo prever. Essa diferença no plano da estrutura gramatical gera uma alteração no plano informativo-discursivo do enunciado : na manchete 1 , o jornal assume , implicitamente , a responsabilidade pela afirmação ; na 2 , o jornal transfere para o IBGE essa responsabilidade. Esse é um dos motivos pelos quais os jornais comumente fazem afirmações categorias sobre fatos já concretizados (Ex.: Inflação caiu no último mês.), mas raramente o fazem sobre fatos futuros , optando por atribuí-los a uma fonte , à qual , indiretamente , atribuem a responsabilidade pela informação. Outro aspecto importante quanto ao emprego das orações substantivas relaciona-se ao fato de que construções sintáticas do tipo "oração principal + oração substantiva" são fundamentais à organização de textos dissertativos. Essas estruturas possibilitam ao enunciador posicionar-se relativamente ao assunto , expondo seu ponto de vista de forma mais pessoal (Ex.: Eu penso que...; Não tenho dúvidas de que...) ou mais impessoal (Ex.: Sabe-se que...; É do conhecimento de todos que...). Elas possibilitam também que o enunciador explicite sua concordância ou discordância quanto a aspectos do tema discutido (Ex.: É inaceitável que...) e suas sugestões relativamente a ele (Ex.: Seria conveniente que... ; Bom seria se...).
