Na França , em 1789, os camponeses ainda eram a maioria da população e, para eles, a história parecia não mudar. Permaneciam curvados sobre o solo sem qualquer oportunidade de sair dessa situação. Uma família inteira dormia numa única cama. A infância não era vista como uma idade inocente, distinta da adolescência ou da fase adulta. Imediatamente após começarem a caminhar, as crianças já trabalhavam junto com os pais. Longe de condenarem a exploração do trabalho infantil, ficavam indignados quando não ocorria. A morte era implacável. Dos franceses nascidos no século XVIII, 45% morriam antes dos 10 anos. A vida na aldeia era uma luta pela sobrevivência. Comer era a questão central. Esses camponeses famintos sofriam com um pesado sistema fiscal. Além dos impostos reais, tinham de pagar o dízimo à igreja e o ônus senhoriais. Apesar de a servidão ter sido abolida na maior parte da França, os senhores continuavam a impor-lhes obrigações , como durante a Idade Média. Além de trabalhar na propriedade do senhor, eles ainda dependiam dos haveres da casa senhorial para moer seu cereal, cozer pão , prensar a uva , e tinham de ceder parte da produção ao senhor como pagamento. Em 1788 e 1789, péssimas colheitas e uma seca agravaram a miséria nos campos. Os celeiros estavam vazios e o preço do pão , o alimento básico dos franceses, subiu assustadoramente . Pior, de 1785 a 1789 o custo de vida aumentou 62 vezes, enquanto o salário, apenas 22. Tais dificuldades levaram os sans cullotes, assim chamados por não vestirem o culotte, calções até os joelhos, roupa dos mais abastados- pequenos negociantes, artesãos e assalariados -, e os camponeses a atos de violência que marcaram os rumos de uma revolução que levaria a mudanças tão radicais como o povo nunca havia experimentado. Em 1791, já em meio ao processo revolucionário, Levie, deputado de origem burguesa, declarou : " Só fizemos a revolução para sermos senhores dos impostos". Antes da revolução os " senhores dos impostos" eram o rei e a nobreza, num modelo administrativo caótico e ineficiente . Havia a prática de vender cargos, meio usado pelo Estado para levantar fundos, tarifas sobre mercadorias, variáveis de região para região, e diferentes sistemas de pesos e medidas, que dificultavam o comércio . Não existia um código de leis aplicável a todas as províncias . Sistemas legislativos conflituosos , baseados no direito romano ou no direito consuetudinário feudal , criavam meandros que dificultavam a compreensão do que era legal ou ilegal. E o Estado ainda gastava abusivamente em guerras sucessivas . A ajuda francesa à independência dos EUA , por exemplo, aumentou significativamente a dívida pública. Cobrar mais impostos ! Era essa solução que o Estado dava ao problema . Calonne , ministro das Finanças , resolveu impor aos nobres o desagradável dever de pagar impostos . Indignados , eles públicaram um panfleto em que o ministro aparecia como macaco fantasiado de cozinheiro-chefe do restaurante da Corte, travando com os nobres , figurados como patos, e galinhas , o seguinte diálogo : "Meus caros administrados, convoquei-os para perguntar com que molho desejam ser comidos". Resposta : " Mas nós não queremos ser comidos de forma alguma!" Ministro : " vocês estão saindo da questão" . Calonne acabou demitido.
