Toda sociedade grande e complexa tem, na verdade , as duas qualidades: é muito firme e muito elástica . Em seu interior , constantemente se abre um espaço para as decisões individuais. Apresentam-se oportunidades que podem ser aproveitadas ou perdidas. Aparecem encruzilhadas em que as pessoas têm de fazer escolhas , e de suas escolhas , conforme sua posição social, pode depender seu destino pessoal imediato , ou o de uma família inteira, ou ainda , em certas situações de nações inteiras ou de grupo dentro delas. Pode depender de suas escolhas que a resolução completa das tensões existentes ocorra na geração atual ou somente na seguinte. Delas pode depender a determinação de qual das pessoas ou grupos em confronto , dentro de um sistema particular de tensões , se tornará o executor das transformações para as quais as tensões estão impelindo, e de que lado e em que lugar se localizarão os centros das novas formas de integração rumo às quais se deslocam as mais antigas , em virtude , sempre , de suas tensões. Mas as oportunidades entre as quais a pessoa assim se vê forçada a optar não são, em si mesmas , criadas por essa pessoa. São prescritas e limitadas pela estrutura específica de sua sociedade e pela natureza das funções que as pessoas exercem dentro dela. E, seja qual for a oportunidade que ela aproveite , seu ato se entremeará com os de outras pessoas; desencadeará outras sequências de ações, cuja direção e resultado provisório não dependerão desse indivíduo , mas da distribuição do poder e da estrutura das tensões em toda essa rede humana móvel.
Elias, Nobert. A Sociedade dos Indivíduos . Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. P. 48.