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quinta-feira, 24 de maio de 2018

Indústria Cultural e Arte Engajada



        A década de 1960 no Brasil, assim como em boa parte do mundo , foi um período de grande efervescência cultural. Despontava uma cultura jovem , de classe média, mais atenta à realidade e manifestando, por diversos caminhos , certo inconformismo em relação aos padrões sociais vigentes. Ao mesmo tempo, ampliava-se no país uma poderosa indústria cultural , que promovia a circulação de muitos desses novos valores. O Centro Popular de Cultura (CPC) , da UNE , foi criado em 1961 e tornou-se ponto de convergência da produção de uma arte engajada , comprometida com a realidade nacional. Desenvolvendo explicitamente uma concepção de arte como pedagogia política , o CPC investiu em produções de teatro , cinema , literatura , música e artes plásticas , todas voltadas à conscientização das classes populares. A Bossa Nova , que , nesse momento , ganhava reconhecimento internacional , era considerada pelos militantes do CPC uma música alienada , sem referência à realidade social do país. Nesse sentido, alguns jovens , como Carlinhos Lyra, Edu Lobo , Marcos Valle e Nara Leão, preocuparam-se em politizá-la , aproximando-se da concepção dos estudantes da UNE. Nasceu, assim, a canção de protesto , com lestas de conteúdo político e social. Nesse mesmo ano, surgiu outro programa de grande sucesso : o Jovem Guarda. Embora já houvesse , desde o fim da década de 1950 , versões do rock americano circulando no Brasil , foi com a jovem guarda que esse fenômeno obteve maior repercussão, contando com uma grande estratégia de marketing. Liderado por Roberto Carlos , Erasmo Carlos e Vanderleia , o movimento difundia novos comportamentos , vestimentas e gírias , por meio de canções que abordavam temas ligados a festas , amores perdidos, carrões , etc. Durante certo tempo, houve uma polarização entre os fãs dos dois programas televisivos. Para muitos admirados da música engajada, os artistas da Jovem Guarda eram alienados , fazendo músicas apenas para o consumo do mercado. Algumas manifestações artísticas foram além dessa polarização, buscando maior liberdade temática ou de linguagem . A arte , muitas vezes , era entendida unicamente como um instrumento de propaganda e simplificação da linguagem para atingir o povo , exigida pelo CPC. Para fugir dessa ideia, um grupo de cineastas lançou o movimento do Cinema Novo. Entre eles, estava Glauber Rocha , que propunha um cinema revolucionário na forma e no conteúdo , afastando-se dos padrões estéticos com os padrões tradicionais foi feito pelo grupo de teatro Oficina , sob a direção de José Carlos Martinez Correa. Juntando elementos de várias áreas de produção artística , mas centrado principalmente na música , foi lançado , em 1967, o Movimento Tropicalista , com artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa. Esse movimento integrava experimentação, música erudita, ritmos populares de raiz e canções jovens de consumo , utilizando um discurso fragmentário e alegórico. Ressaltando as contradições do Brasil, entre o moderno e o arcaico , a Tropicália não apresentava uma posição política segundo os esquemas binários da época. Por isso, algumas vezes , seus artísticas eram vaiados pelos estudantes de esquerda e detestados pelos partidários da direita. Todo esse fervor ganhou um palco central no período : Os FESTIVAIS DA CANÇÃO, transmitidos pela TV. Com muitas organizações civis fechadas pelo regime , a canção  popular tornou-se porta-voz das diferentes posições políticas. Torcidas organizadas , vaias e protestos refletiam a polarização crescente da sociedade brasileira. Esses festivais revelaram uma importante geração de artistas brasileiros , como Chico Buarque , Edu Lobo , Elis Regina , Geraldo Vandré, Milton Nascimento. Com o aumento da censura e da repressão, após 1969 , tais espetáculos perderam seu ímpeto. Muitos artistas foram exilados ou se auto-exilaram.

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