O Cortiço, obra em que os heróis individuais são substituídos pela coletividade, mostra o Rio de Janeiro da capoeiragem, da mistura de negros, mulatos e imigrantes portugueses, da desumanidade da escravidão e das rivalidades entre existências que testemunham as condições de vida da população, na cidade em crescimento. Nesse excelente exemplar da presença do Naturalismo em nossa literatura, podemos perceber generalizações que se afastam do sumarismo , diagnósticos sociais não contaminados por teorias prontas, preconcebidas , e um enfoque ideológico, de clara denúncia social, que se equilibra com a qualidade literária , sem que a obra se torne panfletária e propagandística. Na ascensão de João Romão, versão carioca do self-made man (o homem que se faz por si mesmo ; símbolo do comportamento do capitalista típico), compreendemos , não os dilemas existenciais decorrentes de sua brutalidade e como coisificação , já que não se trata de obra de realismo psicológico , mas o processo pelo qual essa brutalidade se impõe e encontra espaço no alto da pirâmide capitalista , que assim se desnuda aos olhos do leitor em alguns de seus movimentos essências e também em algumas de suas consequências humanas inevitáveis.
