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quarta-feira, 7 de março de 2018

A Divisão do Trabalho Social Cria a Solidariedade


Bem diverso [da solidariedade mecânica]  é o caso da solidariedade produzida pela divisão do trabalho. Enquanto a precedente implica que os indivíduos se assemelham, esta supõe que eles diferem uns dos outros. A primeira só é possível na medida em que a personalidade individual é absorvida na personalidade coletiva; a segunda só é possível se cada um tiver uma esfera de ação própria, por conseguinte, uma personalidade. É necessário , pois , que a consciência coletiva deixe descoberta uma parte da consciência individual , para que nela se estabeleçam essas funções especiais que ela não pode regulamentar; e quanto mais essa região é extensa , mais forte é a coesão que resulta dessa solidariedade. De fato, de um lado cada um depende tanto mais estreitamente da sociedade quanto mais dividido for o trabalho nela e , de outro, a atividade de cada um é tanto mais pessoal quanto mais for especializada. Sem duvida , por mais circunscrita que seja, ela nunca é completamente original; mesmo no exercício de nossa profissão,  conformamo-nos a usos , a práticas que são comuns a nós e a toda a nossa corporação. Mas, mesmo nesse caso , o julgo que sofremos é muito menos pesado do que quando a sociedade inteira pesa sobre nós , e ele proporciona muito mais espaço para o livre jogo de nossa iniciativa. Aqui, pois, a individualidade do todo espaço para o livre jogo de nossa iniciativa. Aqui, pois, a individualidade do todo aumenta ao mesmo tempo que a das partes; a sociedade torna-se mais capaz de se mover em conjunto , ao mesmo tempo em que cada um de seus elementos tem mais movimentos próprios. Essa solidariedade se assemelha à que observamos entre os animais superiores. De fato, cada órgão aí tem sua fisionomia especial, sua autonomia , e contudo a unidade do organismo é tanto maior quanto mais acentuada essa individuação das partes.  Devido a essa analogia , propomos chamar de orgânica a solidariedade devida à divisão do trabalho.

Durkheim , Émile. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1999. P. 108.

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