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sexta-feira, 30 de março de 2018

O Renascimento Cultural


  O homem medieval vivia num mundo efetivamente diferente do nosso. Seus pensamentos , palavras e atos eram envoltos num pesado e profundo clima de fé. A existência dos homens do povo se tornara bruta , pois a ignorância os impedia de desvendar os mistérios da natureza e das relações humanas. Toda percepção e todo conhecimento da realidade se davam através da aceitação dos valores e normas sociais elaboradas pela Santa Madre Igreja. Davam-se através da fé. E a IGREJA , que monopolizava o conhecimento e a produção do saber , projetava um mundo de martírios  , de sofrimento e de dor .  Um mundo onde o ideal de Deus era inatingível . E não atingi-lo era estar em pecado , era caminhar para o fogo eterno. A única possibilidade de se chegar à luz e à felicidade estava além da vida , estava no ato da morte . E mesmo assim, somente para aqueles que , em vida , não tinham tido limites na obediência e resignação frente à Igreja. Enfim, o conhecimento se realizava pela fé . A fé se realizava pelo medo . E o medo torna os homens passivos. Essa malha ideológica , fiada pelo teocentrismo , servia para manter a ordem , uns poucos tinham nascido para rezar , outros poucos para lutar e muitos outros para trabalhar.  E como Deus havia criado um "mundo imóvel" , a sociedade também deveria permanecer imóvel numa atitude de eterna servidão. Mas, contra a "vontade de Deus" e da Igreja , o mundo medieval estava em movimento . Já vimos que , do século XI ao século XIII, o renascimento comercial e urbano estimulou a economia monetária e o trabalho assalariado , integrando-os às relações internas dos feudos. Nos séculos XIV e XV uma profunda crise se abateu sobre a economia feudal e sua superação passou pela expansão das atividades mercantis e urbanas. Essas transformações no interior do mundo feudal provocaram não só o enfraquecimento das instituições como também alterações profundas nas relações sociais , dando margem ao surgimento de novos valores culturais e ideológicos. Portanto , as mudanças em curso no universo medieval implicavam num reordenamento das estruturas típicas da Idade Média , inclusive da estrutura mental. O Renascimento Cultural e a Reforma Religiosa podem ser vistos como uma "resposta", uma "saída" ideológica para a crise que devorava a Europa Ocidental.  Se a vida , para os homens europeus que viveram entre os séculos XIV e XV , se apresentava cheia de indagações e surpresas , certamente para os intelectuais e artistas foi profundamente  estimulante e envolvente. Início de um longo período de transição para o capitalismo , os anos eram marcados por desafios , enfrentamentos e rupturas. As transformações em curso exigiam a superação os limites da velha mentalidade feudal. Para o homem comprometido com seu tempo era necessário acreditar na aventura , na inspiração, na reflexão , na criação , na investigação. Acreditar em si . Essa nova postura acabou por se traduzir em grande obras literárias , filosóficas , artísticas e científicas , que seus protagonistas batizaram de Renascimento. Renascimento porque acreditavam estar fazendo renascer a cultura clássica depois de "mil anos de trevas" . E se hoje em dia é certo afirmar que a Idade Média teve uma significativa  produção cultural , é igualmente certo afirmar que os humanistas e renascentistas tiveram inúmeras razões para acreditar que o seu papel histórico era revolucionário; fazer renascer a cultura , renascer do homem. Afinal, aos seus olhos tudo se opunha frontalmente a um mundo estático e imutável , o mundo medieval , onde a única inspiração confiável era a divina. Agora , a confiança passava a repousar nos ombros dos próprios homens.

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