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quarta-feira, 11 de abril de 2018

Tempo e Poder


     O domínio da Igreja também era garantido por meio do controle do tempo. O homem era integrante de uma natureza assustadora e incontrolada, cujas forças desconhecidas o aterrorizavam, pondo-- em situação de desvantagem. As interpretações religiosas o fortaleciam , equilibrando sua posição em relação ao mundo natural. O tempo dos contrastes da natureza era assim subordinado ao tempo religioso. De acordo com o tempo religioso , a história da humanidade dividia-se em duas etapas : antes e depois da vinda do Salvador . O ano era orientado segundo os principais atos do drama do filho de Deus (Natal, Quaresma, Páscoa) e pelos dias de santos. O dia também tinha suas subdivisões baseadas na vida de cristo. Eram as horas litúrgicas, durante as quais deveriam ser realizadas rezas e entoados cantos sagrados. A marcação das horas era dada pelo repique dos dinos, que convocava para os ofícios religiosos e reforçava o principal objetivo dos homens medievais: a salvação da alma. Para eles , motivados por um profundo sentimento religioso, cada uma das horas envolvia um rico simbolismo e um ritual litúrgico repetido diariamente nas igrejas e mosteiros. A lembrança do auxílio divino num mundo hostil trazia segurança às comunidades cristãs . A memória do Salvador realizava-se pela repetição cotidiana do ritual e pelos significados que conferia ao tempo. A partir do controle do tempo, a Igreja definia ações e comportamentos. Nos períodos considerados mais sagrados , como a Quaresma , era proibido aos nobres qualquer tipo de luta contra cristãos, sob a ameaça de excomunhão. Era a chamada "trégua de Deus" que procurava , assim , restringir as mortes e pilhagens provocadas pela ação guerreira da nobreza e submetê-la ao clero . Havia poucos limites para a ação da Igreja. Durante a Quaresma , considerada um tempo de penitências e orações, até mesmo as práticas sexuais eram proibidas, inclusive para aqueles legitimamente casados. Além do clerical , uma outra forma de tempo, um outro ritmo de vida começou a formar-se na Europa, a partir do século XI, com o ressurgimento das cidades. Era o tempo da produção artesanal, as trocas comerciais , do trabalho assalariado. O tempo dos negócios e do trabalho urbano , que requeria maior exatidão , com precisão. Nos séculos XIV e XV , os primeiros relógios mecânicos começaram a espalhar-se pela Europa e popularizou-se a divisão do dia em 24 horas. O tempo leigo , dos relógios das torres e dos significados práticos , começava a afirmar-se perante o tempo religioso dos sinos das igrejas, repleto de significados místicos.

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