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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A História


A palavra história pode às vezes causar confusão , pois designa , em princípio, duas coisas bastante diferentes. Podemos nos referir à história como sendo o processo histórico , isto é, a realidade social que se transforma ao longo do tempo, mas podemos usar esse termo também como referência a um campo de investigação que toma por objeto essa mesma realidade social, com suas mudanças e permanências . Ou seja, a mesma palavra designa um objeto de estudo - as sociedades humanas no tempo - e o estudo desse objeto- a pesquisa e a escrita da história. Ambos os sentidos interessam à Filosofia, e muitas vezes eles se misturam. A emergência de uma historiografia científica só aconteceu no século XIX, com a sistematização de métodos e técnicas de pesquisa histórica em grandes centros de pesquisa, como a Universidade de Berlim ou a Sorbonne, em Paris. Essa sistematização , contudo, só pôde ocorrer porque contou com elementos de crítica histórica que já vinham sendo desenvolvidos desde a Antiguidade , culminando com o pensamento de Voltaire. Ao escrever sobre Guerra do Peloponeso , um conflito entre duas ligas de cidades-Estado gregas lideradas por Atenas e Esparta , o historiador grego Tucídides (c. 460 a.C. -c. 400 a.C) reuniu depoimentos de atenienses , que geralmente contavam os acontecimentos de um ponto de vista favorável a Atenas, e de espartanos, que favoreçam a imagem de Esparta na guerra. Como ele buscava fatos, e não opiniões, submeteu esses relatos a uma crítica severa. Esse mesmo espírito crítico inspirou os eruditos renascentistas. O humanista italiano Lorenzo Calma (1405-1457) , por meio do estudo das transformações por que passou o latim - a língua dos antigos romanos, adotada posteriormente pela Igreja Católica -, conseguiu provar que a Doação de Constantino era uma falsificação. A Doação de Constantino é um texto atribuído ao Imperador Constantino , que governou o Império Romano entre os anos 306 e 337 . De acordo com esse documento , o imperador teria outorgado ao Papa e seus sucessores uma série de privilégios. Valla, porém, identificou no texto palavras que não existiam ainda no século VI e que só foram incorporados ao latim séculos depois. Provou assim que a Doação de Constantino era um documento forjado no século VIII ou XI com o objetivo de justificar a autoridade da Igreja em relação ao poder dos reis. 

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